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Epilepsia tem controle e família é fundamental no tratamento
Sem prevalência de sexo, a doença atinge de um a 3% da população mundial; No Brasil, a quantidade de portadores da patologia fica entre 1,8 a 3,6 milhões de pessoas.
Conhecida por uma doença crônica caracterizada pela ocorrência de crises epilépticas, a epilepsia é recorrente a consequências neurobiológicas, cognitivas, psicológicas e sociais. Sem prevalência de sexo, a doença atinge de um a 3% da população mundial. E no Brasil, a quantidade de portadores da patologia fica entre 1,8 a 3,6 milhões de pessoas.
A doença neurológica causada por diferentes origens tem como principal sintoma as crises epilépticas.
Segundo a médica neurologista, Maria Luiza de Manreza, as crises ocorrem devido a uma descarga elétrica excessiva de um grupo de neurônios localizado em uma dada região do cérebro. “As manifestações clínicas vão depender da região onde a descarga se localiza e se propaga,” comenta.
A médica afirma ainda que as crises podem ocorrer de diferentes maneiras: rápidas ou prolongadas; com ou sem alteração da consciência; com fenômeno motor, sensitivo ou sensorial; únicas ou em salvas; exclusivamente em vigília ou durante o sono e precedidas ou não por aura.
Para acabar com certos mitos que envolvem a doença, até mesmo para os próprios pacientes, a gestora financeira e corretora de imóveis, Ligia Carneiro Leão Simões, 49 anos, conseguiu controlar as crises que tinha e mostrou a todos que a epilepsia rima com alegria.
Lígia descobriu que estava com a doença aos dois anos, após uma febre ocasionada por uma crise convulsiva. Foi medicada até os 10 anos, e aos 12, voltou a ter novamente as crises. Precisou fazer os tratamentos necessários para controlar o transtorno. “Não tem como não tratarmos, o susto de uma crise convulsiva é tão forte que imediatamente comecei a fazer o eletroencefalograma (EGG), a tomografia, a ressonância magnética e tomando anticonvulsivantes”, relata.
A neurologista explica ainda que são várias formas de tratamentos, mas inicialmente são com fármacos antiepilépticos em monoterapia - apenas um medicamento ou, mais raramente, politerapia - dois medicamentos ou mais. “Quando as crises epilépticas não forem controladas com dois fármacos em doses máximas, a epilepsia é considerada refratária. Adultos e crianças com epilepsia refratária devem ser encaminhados a centros especializados em epilepsia para avaliar a possibilidade de tratamento cirúrgico”, afirma.
Além de tratamentos mais leves, alternativas terapêuticas também ajudam no controle as crises, como a dieta cetogênica, o estimulador do nervo vago e o estimulador cerebral profundo. Em casos muito específicos, outros métodos, como o remédio canabidiol, imunomoduladores (corticoide, rituximab, imunoglobulina) podem ser utilizados.
“Com o uso adequado do fármaco antiepiléptico conseguimos controle das crises em 70% dos casos”, explica a médica.
Devido ao uso de medicamentos diários, sem interrupção, a gestora financeira consegue controlas as crises. “No meu caso que é controlado por medicamentos, eu tomo todos os dias sem poder jamais interromper. Ir ao médico pelo menos uma vez ao ano, fazendo EEG, e exame de dosagem de fenobarbital,” disse.
Lígia comenta ainda que, se possível, a famíliadeve fazer terapia, pois ajuda a manter as crises controladas da pessoa epiléptica.
De acordo com a médica e Coordenadora do Departamento Científico de Epilepsia da Academia Brasileira de Neurologia (ABN), Adélia Henriques Souza, toda crise convulsiva é epilética, mas nem toda crise epiléptica é convulsiva. “A convulsão por definição é uma crise epiléptica com sintomas motores (abalos musculares)”, destaca.
Na maioria das vezes, a causa não é determinada, pois tem origem genética. No entanto, em algumas situações, as crises podem advir de traumatismos cranianos, infecções e tumores do sistema nervoso central, distúrbios metabólicos, acidentes vasculares isquêmicos ou hemorrágicos, parasitoses, malformações do cérebro, uso de drogas ilícitas e abuso de álcool.
Ainda de acordo com a Coordenadora do Departamento Científico de Epilepsia, durante uma crise, o ideal é colocar o paciente deitado com a cabeça de lado, para facilitar a saída de secreção e evitar aspiração. “Não deve ser introduzido qualquer objeto na boca, não se deve tentar interromper os movimentos dos membros nem oferecer nada por via oral, e, é preferível acionar o serviço de urgência ou telefone de algum familiar ou médico”, conclui.
Restrições
Uma das características que devem ser ressaltadas sobre a doença é que as pessoas com epilepsia podem praticar esportes, mas que, no entanto, algumas atividades físicas são contraindicadas ou devem ser realizadas com supervisão de outra pessoa, como atividades radicais (paraquedismo, asa delta, alpinismo, mergulho e esportes motorizados).
A médica Maria Luiza destaca que a natação é liberada desde que as crises epilépticas estejam controladas e de preferência sob supervisão individual. Em relação à direção de veículos, a Associação Brasileira de Educação de Trânsito refere que o paciente com epilepsia em uso de medicação antiepiléptica poderá dirigir se estiver há um ano sem crise epiléptica, tomando a medicação regularmente, e deverá ter um laudo favorável de seu médico assistente.
Com algumas restrições médicas e familiares, a corretora de imóveis não deixou de praticar esportes como nadar, e começou a se alimentar no horário certo. “Eu aprendi depois dos 18 anos e de muito chorar por querer ser uma ‘pessoa normal’ com meu médico Dr. José Geraldo Speciali. Tudo poderia dentro de um bom senso, com medidas como não me cansar muito. Quando for ao clube nadar, ir sempre com alguma amiga que soubesse do problema e prestasse atenção ao entrar na piscina, evitar a luz branca de danceterias, dormir oito horas por dia, me alimentar nos horários normais e não me estressar,” aponta.
Mês da epilepsia
Neste sábado, 19, das 9h às 13h30,Academia Brasileira de Neurologia (ABN), juntamente à Liga Brasileira de Epilepsia (LBE) e à Associação Brasileira de Epilepsia (ABE), promoverá atividades esportivas na Arena da Ponte de Ferro do Parque Ibirapuera, como parte da campanha de conscientização sobre epilepsia. Na ocasião, uma tenda reunirá neurologistas que conversarão com a população sobre a doença, assim como professores de educação física que auxiliarão os participantes nas atividades.
“A ideia é tirar o estigma de que as pessoas com epilepsia não podem praticar esportes. A prática esportiva é benéfica e pode inclusive, segundo alguns estudiosos diminuir a frequência de crises”, afirma Maria Luiza.
A neurologista ainda comenta o fato de que a madrinha da campanha é uma esportista. “A própria madrinha, a ex-jogadora de vôlei Fofão, já nos leva a pensar por esse lado. Vamos esclarecer que a pessoa com epilepsia, com grande frequência, tem uma vida normal e deve se exercitar”, complementa a neurologista.
O evento contará ainda com demonstrações de capoeira e contadores de histórias para crianças que estiverem no local.
Surpresa
Além das limitações, Ligia não poderia engravidar, pois com cinco calcificações no cérebro em pontos diferentes e com o uso de medicamentos impediam de ser mãe. “Eu sem querer engravidei aos 32 anos e tive uma gravidez de risco. Não houve sequelas, mas poderia ter tido desde um aborto espontâneo, até um filho com deformações serias, mas graças a Deus e aos cuidados do meu Neurologista e do meu Ginecologista tudo correu bem e minha filha vai completar 17 anos, tendo muito que agradecer,” finaliza.
Seguindo todas as disciplinas e fazendo o tratamento correto, o epiléptico poderá conviver com a patologia sem interferir na qualidade de vida. Assim como o exemplo da gestora financeira.
Revide Online
Laura Scarpelini
Fotos: Arquivo Pessoal
A doença neurológica causada por diferentes origens tem como principal sintoma as crises epilépticas.
Segundo a médica neurologista, Maria Luiza de Manreza, as crises ocorrem devido a uma descarga elétrica excessiva de um grupo de neurônios localizado em uma dada região do cérebro. “As manifestações clínicas vão depender da região onde a descarga se localiza e se propaga,” comenta.
A médica afirma ainda que as crises podem ocorrer de diferentes maneiras: rápidas ou prolongadas; com ou sem alteração da consciência; com fenômeno motor, sensitivo ou sensorial; únicas ou em salvas; exclusivamente em vigília ou durante o sono e precedidas ou não por aura.
Para acabar com certos mitos que envolvem a doença, até mesmo para os próprios pacientes, a gestora financeira e corretora de imóveis, Ligia Carneiro Leão Simões, 49 anos, conseguiu controlar as crises que tinha e mostrou a todos que a epilepsia rima com alegria.
Lígia descobriu que estava com a doença aos dois anos, após uma febre ocasionada por uma crise convulsiva. Foi medicada até os 10 anos, e aos 12, voltou a ter novamente as crises. Precisou fazer os tratamentos necessários para controlar o transtorno. “Não tem como não tratarmos, o susto de uma crise convulsiva é tão forte que imediatamente comecei a fazer o eletroencefalograma (EGG), a tomografia, a ressonância magnética e tomando anticonvulsivantes”, relata.
A neurologista explica ainda que são várias formas de tratamentos, mas inicialmente são com fármacos antiepilépticos em monoterapia - apenas um medicamento ou, mais raramente, politerapia - dois medicamentos ou mais. “Quando as crises epilépticas não forem controladas com dois fármacos em doses máximas, a epilepsia é considerada refratária. Adultos e crianças com epilepsia refratária devem ser encaminhados a centros especializados em epilepsia para avaliar a possibilidade de tratamento cirúrgico”, afirma.
Além de tratamentos mais leves, alternativas terapêuticas também ajudam no controle as crises, como a dieta cetogênica, o estimulador do nervo vago e o estimulador cerebral profundo. Em casos muito específicos, outros métodos, como o remédio canabidiol, imunomoduladores (corticoide, rituximab, imunoglobulina) podem ser utilizados.
“Com o uso adequado do fármaco antiepiléptico conseguimos controle das crises em 70% dos casos”, explica a médica.
Devido ao uso de medicamentos diários, sem interrupção, a gestora financeira consegue controlas as crises. “No meu caso que é controlado por medicamentos, eu tomo todos os dias sem poder jamais interromper. Ir ao médico pelo menos uma vez ao ano, fazendo EEG, e exame de dosagem de fenobarbital,” disse.
Lígia comenta ainda que, se possível, a famíliadeve fazer terapia, pois ajuda a manter as crises controladas da pessoa epiléptica.
De acordo com a médica e Coordenadora do Departamento Científico de Epilepsia da Academia Brasileira de Neurologia (ABN), Adélia Henriques Souza, toda crise convulsiva é epilética, mas nem toda crise epiléptica é convulsiva. “A convulsão por definição é uma crise epiléptica com sintomas motores (abalos musculares)”, destaca.
Na maioria das vezes, a causa não é determinada, pois tem origem genética. No entanto, em algumas situações, as crises podem advir de traumatismos cranianos, infecções e tumores do sistema nervoso central, distúrbios metabólicos, acidentes vasculares isquêmicos ou hemorrágicos, parasitoses, malformações do cérebro, uso de drogas ilícitas e abuso de álcool.
Ainda de acordo com a Coordenadora do Departamento Científico de Epilepsia, durante uma crise, o ideal é colocar o paciente deitado com a cabeça de lado, para facilitar a saída de secreção e evitar aspiração. “Não deve ser introduzido qualquer objeto na boca, não se deve tentar interromper os movimentos dos membros nem oferecer nada por via oral, e, é preferível acionar o serviço de urgência ou telefone de algum familiar ou médico”, conclui.
Restrições
Uma das características que devem ser ressaltadas sobre a doença é que as pessoas com epilepsia podem praticar esportes, mas que, no entanto, algumas atividades físicas são contraindicadas ou devem ser realizadas com supervisão de outra pessoa, como atividades radicais (paraquedismo, asa delta, alpinismo, mergulho e esportes motorizados).
A médica Maria Luiza destaca que a natação é liberada desde que as crises epilépticas estejam controladas e de preferência sob supervisão individual. Em relação à direção de veículos, a Associação Brasileira de Educação de Trânsito refere que o paciente com epilepsia em uso de medicação antiepiléptica poderá dirigir se estiver há um ano sem crise epiléptica, tomando a medicação regularmente, e deverá ter um laudo favorável de seu médico assistente.
Com algumas restrições médicas e familiares, a corretora de imóveis não deixou de praticar esportes como nadar, e começou a se alimentar no horário certo. “Eu aprendi depois dos 18 anos e de muito chorar por querer ser uma ‘pessoa normal’ com meu médico Dr. José Geraldo Speciali. Tudo poderia dentro de um bom senso, com medidas como não me cansar muito. Quando for ao clube nadar, ir sempre com alguma amiga que soubesse do problema e prestasse atenção ao entrar na piscina, evitar a luz branca de danceterias, dormir oito horas por dia, me alimentar nos horários normais e não me estressar,” aponta.
Mês da epilepsia
Neste sábado, 19, das 9h às 13h30,Academia Brasileira de Neurologia (ABN), juntamente à Liga Brasileira de Epilepsia (LBE) e à Associação Brasileira de Epilepsia (ABE), promoverá atividades esportivas na Arena da Ponte de Ferro do Parque Ibirapuera, como parte da campanha de conscientização sobre epilepsia. Na ocasião, uma tenda reunirá neurologistas que conversarão com a população sobre a doença, assim como professores de educação física que auxiliarão os participantes nas atividades.
“A ideia é tirar o estigma de que as pessoas com epilepsia não podem praticar esportes. A prática esportiva é benéfica e pode inclusive, segundo alguns estudiosos diminuir a frequência de crises”, afirma Maria Luiza.
A neurologista ainda comenta o fato de que a madrinha da campanha é uma esportista. “A própria madrinha, a ex-jogadora de vôlei Fofão, já nos leva a pensar por esse lado. Vamos esclarecer que a pessoa com epilepsia, com grande frequência, tem uma vida normal e deve se exercitar”, complementa a neurologista.
O evento contará ainda com demonstrações de capoeira e contadores de histórias para crianças que estiverem no local.
Surpresa
Além das limitações, Ligia não poderia engravidar, pois com cinco calcificações no cérebro em pontos diferentes e com o uso de medicamentos impediam de ser mãe. “Eu sem querer engravidei aos 32 anos e tive uma gravidez de risco. Não houve sequelas, mas poderia ter tido desde um aborto espontâneo, até um filho com deformações serias, mas graças a Deus e aos cuidados do meu Neurologista e do meu Ginecologista tudo correu bem e minha filha vai completar 17 anos, tendo muito que agradecer,” finaliza.
Seguindo todas as disciplinas e fazendo o tratamento correto, o epiléptico poderá conviver com a patologia sem interferir na qualidade de vida. Assim como o exemplo da gestora financeira.
Revide Online
Laura Scarpelini
Fotos: Arquivo Pessoal
Ribeirão Preto SP 18 de Setembro de 2015
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