terça-feira, 20 de março de 2012

Relato V



Nascimento - HELENA

Logo depois da minha visita ao Ginecologista mudamos de apartamento, para poder acomodar as coisas da Helena e assim pude montar nosso quarto. Meu pai fez questão de tudo novo, eu já pensava em improvisar algumas coisas, mas ele não permitiu e sentia na minha mãe uma "suposta" paciência, mas durante minha gravidez, trocou todos os eletrodomésticos da cozinha e lavanderia, mas nada dizia e ainda bordou em  ponto cruz todo enxovalzinho da Helena, personalizando-o. Foi tudo muito simples, mas de muito bom gosto e lindo!
Exatamente um dia depois de nos mudarmos para o apartamento novo o pai da Helena apareceu do nada, com duas amigas minhas de Jaboticabal e eu estava já com uma barriga enorme e a casa de pernas para o ar, ou seja, tudo fora do lugar. Foi onde senti a mágoa do meu pai que não queria deixá-lo subir na hora que o porteiro anunciou-o. Meu coração veio à boca, não estava esperando, mesmo porque diversas vezes pedi que ele tomasse esta atitude, mas nunca o fez, e de repente lá estav aele. Minha mãe atendeu o interfone e autorizou a subida deles. Recebi-os na sala e ele ficou espantado de como eu estava diferente.Fui até a cozinha onde meu pai se encontrava e perguntei se ele não ia lá, e ele respondeu na hora:
-Por mim ele não tinha nem entrado, foi sua mãe que deixou e lá não vou.
Foi então que pedi:
-Pai, por favor, por mim e pela Helena, afinal é o pai dela, não faz isso, eu estou te pedindo.
Ele me olhou, desceu da escada e disse:
-Por você e pela Helena, mais nada.
E lá foi ele cumprimentar a todos e conversou com as meninas, enquanto eu e meu ex víamos as coisinhas da Helena no quarto e ele se justificava dizendo:
-Muito bom, seu pai fez tudo por você né, eu não fiz nada. Comentou
-Eu tenho certeza que ainda fará, sei que você não está podendo, mas podia ter vindo antes porque talvez, muita coisa não tivesse passado, mas agora já foi e não foi só do meu pai, aqui tem ajuda de muitas pessoas da minha família como minha irmã, meu cunhado, os filhos deles, as meninas, minhas primas. Relatei.
-Mas você parece bem, tem sentido algo? Perguntou
-Não, graças a Deus não, mas ainda estou preocupada, só vou descansar ou não depois que ela nascer, mas tenho muita fé que tudo dará certo.
-Queria que você entendesse que foi muito difícil para eu aceitar e entender tudo o que aconteceu na nossa vida de uma hora para outra.
-Eu até entendo que é difícil, mas eu não tinha como fugir, esta criança está aqui, eu tinha que enfrentar, não dava para ser diferente e assim o fiz, mesmo sofrendo muito.
E continuei...
-Não culpo você por não querer ficar comigo, não era obrigado a se casar, ter-me como esposa ou coisa parecida, mas você me rejeitou como pessoa, e uma pessoa que espera um filho teu, isso é que é muito difícil.
-Mas e se ela nascer com problemas, eu acho que não tenho estrutura para agüentar a conviver com isso.
-Não posso fazer nada, eu não tenho escolha, com problemas ou sem problemas ela vai nascer e terei que enfrentar e amá-la do mesmo jeito.
-Eu não durmo só pensando nisso, ele comentou.
-E você acha que para mim está fácil? Eu tenho que enfrentar, mas creio que vai dar tudo certo.
-Eu vou comprar umas fraldas descartáveis para trazer. Vou fazer o pedido de RN de tamanho de um a três meses, pode ser? Perguntou.
-Claro que pode, toda ajuda é bem vinda, muito obrigada, nós duas agradecemos.
Voltamos para a sala, matei um pouquinho a saudades das amigas e eles resolveram ir embora. Ele deu-me apenas um abraço e pediu para eu me cuidar.
Duas semanas depois apareceu novamente com dois fardos de uma fralda importada maravilhosa e um fardo  de um a três meses da mesma marca. Assustei, mas achei ótimo, porque ainda não tinha comprado nenhum pacote. Ele veio com um amigo nosso, conversamos um pouco e  foram embora. Acho que foi a última vez que eu o vi antes do parto.
Refiz a amizade com minha prima com quem tinha discutido antes de ir morar em  Jaboticabal-SP, e foi um encontro que me fez bem, mas quase não saia de casa por conta da minha pressão que baixava por nada, mas fora isso, estava bem.
Estava no 8º mês de gravidez sem nada sentir, apenas ainda tinha, desde o 5º mês medo de dormir, ou insônia, se assim podemos classificar. Meu medo de chegar o dia era imenso, então ficava acordada todas as noites até o sono me vencer, como se o dia do nascimento não fosse chegar de qualquer forma. Durante as madrugadas lia sobre partos, anestesias e tinha um diário que além de explicar cada parte com fotos e lugares para relatórios, davam dicas de roupas, posições, e também falava do tal exame que fazia o AFP (Alfa Feto Proteínas).
Do 8º para o 9º mês passei a ter muita falta de ar, já não fumava quase, chegava a dois cigarros por semana e não me fazia falta, tinha outras preocupações, mas ainda tinha muita vergonha do meu pai. Minha barriga não parava de crescer e com ela minha angústia em tê-lo decepcionado e ele ainda estar do meu lado de forma tão nobre. Tudo corria bem, mas angustiante, acho que queria ter motivos para reclamar e não tinha nenhum, fora meu irmão que resolveu ser um rebelde sem causa e ter ciúmes, mas até aí, tudo bem. Às vezes brigávamos muito e eu desforrava todo o meu ódio do pai da Helena nele, como se tivesse culpa.
Dia 30 de setembro por volta das 22h00 acendi um cigarro, coisa que já não fazia, dei duas tragadas e pensei:- Amanhã isso aqui vai me dar mais falta de ar. E apaguei.
Durante a madrugada toda comecei a perceber que estava tendo contrações e por volta das 2h30m comecei a cronometrar e elas se manifestavam de cinco  em 5 minutos. Por volta das 4h00 fui até o quarto da minha mãe e  meu pai, que nunca estava fora, naquele dia tinha ficado em São Joaquim para resolver uns problemas. Acordei minha mãe e disse o que sentia e que achava melhor ligar para o meu ginecologista. Ela então assustada respondeu:
-Isso não é nada, dorme que passa!
Não sabia se ria ou chorava, mas foi à resposta mais hilária que recebi na vida.
Liguei para o meu médico por volta das 4h30m e disse o que ocorria, se esperava o dia da consulta que estava próxima e ele então respondeu:
- Vá agora para o hospital, nos encontramos lá, não quero esperar para a consulta. Até daqui a pouco.
Perdi as pernas e não conseguia sair do lugar, mesmo porque meu pai não estava ali e fiquei sem ação e tremendo muito, foi então que liguei para minha irmã e ela atendeu ao telefone assustada, mas já prevendo:
-O médico quer que eu esteja lá agora, o que faço, nosso pai não está aqui?
Ela respondeu
-Meu marido vai te levar até lá, fique tranqüila, está tudo pronto não é?
Respondi com voz fraca:
-Está sim, tá bom, vamos.
Desliguei o telefone e pensei: - Meu Deus, como vai ser chegar em uma cidade pequena, com meu cunhado para dar a luz? Acho que isso não está certo e no mesmo instante o telefone tocou:
-Ligia, agora que acordei, quer que eu te leve, vamos juntas conversando?...Era minha irmã, lúcida novamente.
Eu relaxei e disse:
-Quero muito, não tem cabimento ser diferente e será melhor!
No caminho ela disse que achava que ia nascer naquele dia, mas que era tranqüilo, que não precisava me preocupar. Foi então que pedi para ela que se caso eu fosse ter o nenê naquela manhã que avisasse o pai da Helena depois que eu estivesse no centro cirúrgico. Não queria ninguém comigo, tinha medo do que poderia acontecer e precisava estar sozinha com o médico e o anestesista, mais ninguém. Este momento era só meu, tinha que enfrentá-lo, então, que fosse sozinha como foi desde o dia 20 de fevereiro.
Lembro-me até hoje, usava uma blusa de malhas com mangas longas brancas e por cima um vestido longo também de malha preto de alças, muito bonito e calçava uma alpargata preta com sola de borracha.Sentia-me muito bem.
Demorou um pouco, mas o Ginecologista chegou e a minha irmã tomou todas as providências com relação à internação, mas não conseguia falar com meu pai. Quando o conseguiu também teve uma reação engraçada, disse que a hora que acordasse ia ver o que poderia fazer... Ou seja, estavam todos transtornados e dormindo muito. Todos nós sabíamos que a hora ia chegar, mas ninguém se preparou para ela e não tem mesmo como se preparar. Ela apenas chega...
Conversamos bastante eu e o meu médico que depois de me examinar me disse:
-Lígia, você não tem nem um dedo de dilatação. Também não tem histórico de parto normal, sua mãe não teve e sua irmã também não. Eu precisava de um aviso da natureza e estou tendo, mas não é definitivo, posso te mandar para casa e estas contrações só vão piorar e judiar de você e podem durar até 10(dez) dias. Passamos por muito sufoco, estou agoniado faz dois meses para ver esta criança. Você aceitaria fazer uma cesárea agora, afinal sua idade e todo seu histórico não competem para que seja diferente, que tal?
Eu mais do que depressa respondi:
- Por mim Doutor, está tudo bem, também quero terminar com esta agonia. Vamos fazer a cesárea sim. 
Ele então me orientou
-Vou deixar você na mão da enfermeira e vou chamar sua irmã para algumas providências de roupas e coisas do tipo porque sei que ela está com você, já nos vimos lá fora quando cheguei. Vai querer fotografar ou algo mais? indagou.
Eu mais ou menos calma disse:
-Dr., este momento é só nosso. Só nós sabemos o que passamos e se vamos passar mais, então não quero ninguém além de nós lá dentro, nem minha irmã. Este momento será único na minha vida, mas muito obrigada pela preocupação! Disse com um sorriso meio amarelo, nervoso.
-Imagina, eu entendo você e acho que está certa. Bem, te encontro na sala de parto.
E as enfermeiras entraram em ação. Minha irmã chegou e reafirmei meu pedido do aviso para o pai da Helena e ela entendeu; e orientei sobre a 1ª roupinha que ela quem inclusive tinha me dado e sobre as coisas da malinha e as minhas. Demos ainda umas risadas sobre a reação de cada um e fui para a sala de parto.
O anestesista era quem eu desejava sem pedir, acredito que tenha sido Deus que o colocou de plantão naquele dia. Ele é calmo, sereno e competente, em fração de segundos, depois de explicar sobre como seria o procedimento da anestesia, aplicou e eu não senti mais minhas pernas.
O Ginecologista entrou e o parto iniciou, mas de uma hora para outra minha pressão caía, eu então falava com um pouco de medo de tudo o que ocorria e ele injetava algo no soro, e o ginecologista afastava a Helena que deveria estar em algum lugar indevido. Eu sumia e voltava, sempre com a sensação de desmaio, foi quando meu médico então disse:
-Lígia, ela como já sabíamos está na posição correta, mas vou tirá-la pelas costas, preciso ver a coluna desta criança rápidamente e assim o fez.
Foi o momento mais lindo da minha vida:
Ele ao tirá-la olhava e falava bem alto:
-Ela é perfeita Lígia, ela é perfeita, perfeita. Graças a Deus não tem nada, absolutamente nada na coluninha dela e ainda é brava!
Eu chorava sem parar e agradecia a Deus por tudo aparentemente ter dado certo e minha pressão voltou ao normal.
O Pediatra a pegou e dai a pouquinho veio com ela, maravilhosa, ainda sujinha para eu ver. Era linda, mais linda do que podia supor e chorava compulsivamente e apaguei.
Eram 08h53m do dia  1º de outubro de 1.998. O dia mais feliz da minha vida e daí para a frente foi só alegria:
O primeiro banho da tia coruja durante sete dias;
O primeiro banho que me deixaram dar;
Amamentar e ter muito leite e ela não conseguir mamar  e as vezes ter que tirar, por não aguentar de dor. Era gratificante;
Acordar a noite para amamentá-la, trocá-la e aproveitar para tirar várias fotos;
Ir ao pediatra e descobrir que tudo estava correndo muito bem;
O nosso choro do primeiro dia na escolinha aos nove meses;
O desespero da primeira febre;
A primeira internação;
O Batizado;
O primeiro aniversário;
A primeira vez ela me chamou de Mãe
-SER MÃE, não tem como explicar, tem que sentir e eu consegui, com muito sacrifício e determinação, perseverança e fé e acreditando que tudo podemos superarmos se acreditamos.
PARAFRASEANDO O DR. SPECIALI: EU SOU UMA GRANDE VITÓRIA NA SUA VIDA PROFISSIONAL E A HELENA É MEU TROFÉU.


Esta é a minha Helena, valeu por tudo e valeria sempre! 


Seu nome: Luz, Iluminada
O Rosa é sua cor preferida
Seu signo Libra
Sua pedra Opala
Seus olhos: Verdes
Seus cabelos: Castanhos Claros
Seu Nascimento: 1º de Outubro, sendo dia  dia de Santa Terezinha, que alivia a angustia e a aflição 
Seu Batizado: 22 de maio, Dia de Santa Ria de Cassia- a Santa das causas impossiveis


Realmente, ela veio para dar Luz à minha vida, um divisor de àguas!







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segunda-feira, 19 de março de 2012

Olá meus seguidores e amigos fieis:

Estarei postando por estes dias o Relato V  "Nascimento". Acreito que vão gostar e aí sim, começará minha grande caminhada de ajuda à todos aqueles que precisam, sejam pais ou filhos epiléticos. Estarei sempre pronta para dividir um pouquinho do que passei, para ajudar quem tanto precisa.


Milhões de beijos!!!!!!!!!!!!

Lígia

quinta-feira, 15 de março de 2012

1.000  visitas no  Blog. Muito Obrigada!
Sinto sempre vontade de continuar.Ele ainda não tem 1 mes...
Não tenho muito o que falar...escreverei depois.

Beijos!!!!!!!!!!!!!!  Leiam abaixo o RELATO IV

Relato IV



Gravidez

Quarta-feira de cinzas e lá estava eu no consultório do Dr. Speciali, sem saber o que me esperava...
Ao ser chamada, entrei parcialmente tranqüila, afinal não tinha muito que fazer, isso era o que eu achava, e tudo ia normal e eu como sempre sozinha, sem ninguém para me acompanhar.
Ele então se dirigiu a mim em tom firme e diz:
-Como você deixou isso acontecer?...Quantas vezes alertei?...Não é criança, as conseqüências podem ser sérias, como pode não acontecer nada, mas teremos que viver isso. Eu pedi tanto e você não me atendeu, disse com voz de decepção
Neste momento meu coração apertou, ele nunca havia falado comigo tão firmemente, nem meu pai fez isso e continuou...
-Vou pedir pelo menos para você não comprar uma chupeta para esta criança até lá pelo menos seu 5º (quinto) mês de gravidez, porque pode sofrer um aborto espontâneo por conta de uma crise convulsiva. Lígia, Lígia, você pelo menos está tomando o ácido fólico como recomendei?
Nada o fazia acalmar.
Eu balancei a cabeça positivamente e  então perguntei...
-Dr, o que pode acontecer agora com a retirada do Depakene?
-Tudo e nada, agora temos de aguardar, pois você terá que fazer alguns exames que eu quero acompanhar, e se eu perceber que estes exames te fazem correr risco de vida, teremos que agir rápido, mas não acredito que chegará a tanto. Essa criança pode vir com deformações complicadíssimas, que para cuidar ao longo da vida causarão muito sofrimento... Pode vir com lábios leporinos, que também é um desgaste por ter que passar por varias cirurgias... Fora isso, pode não nascer, ou pode correr tudo bem. Agora será que  você tem noção do que estou dizendo. Estou muito preocupado, não quero este tipo de sofrimento para você, nem para ninguém. Saiba que tive um paciente que perdi há pouco tempo e o quanto era difícil tratá-lo, e ele se foi aos 16 anos, e por mais inteligente que fosse seu organismo não agüentou. As complicações eram muitas. Não desejaria jamais isso para você.
Eu chorava sem parar e ele não teve pena, por momento algum me consolou, apenas foi frio e profissional e eu assustei muito, não era esse Dr. Speciali que estava acostumada, mas acatei tudo e me curvei.
Ele então perguntou quem seria meu médico, eu falei e ele fez um relatório do meu problema, dos medicamentos e solicitou um exame aos 3 meses chamado AFP (Alfa Feto Proteína). Este exame era para detectar se existia alguma anomalia na criança, repetido no 6º mês, seguido de Ultrassonografia feito por um medico escolhido a dedo na Maternidade Sinhá Junqueira. Estas ultrassonografias também não eram cobertas por nenhum plano e nem os exames de sangue.
Saí do consultório dele em Ribeirão Preto completamente arrasada, e voltei para Jaboticabal  chorando, confiante, mas assustada com suas palavras firmes. Lembrou-me a frieza do médico do H.C. de anos atrás.
Estava com 32 anos e 42 kg, e o que era mais preocupante, ainda fumava,  sem trabalho, porque havia pedido demissão, cumpria aviso,  porque queria voltar para Ribeirão, mas isso  antes de saber da gravidez. Resumindo: grávida, sem trabalho, sozinha, sem dinheiro, com um patrão que não me pagava direito, me devia, e correndo risco de vida ou de ter um filho cheio de problemas. Não sabia em que pensar direito, então coloquei a gravidez em primeiro lugar, mas para isso tinha que enfrentar mais um problema que era voltar para a casa dos meus pais, talvez de tudo o pior, ou o melhor...
Chegando em Jaboticabal liguei para o pai da Helena (ainda não sabia que era uma menina) e pedi para ele me encontrar no meu apartamento e ele assim o fez na manhã seguinte.
Expliquei tudo que o médico tinha me dito e ele sem saber o que fazer ouviu tudo e disse:
-Fazer o que, tenho que trabalhar, nos falamos depois... E se foi.
Não conseguia levantar para abrir a porta e nem dizer tchau. Parecia que acabava de conversar com um estranho, e isso me deixou mais triste e ali fiquei por alguns minutos para poder tentar, sem conseguir entender a reação dele.
O telefone tocou, era meu patrão me convidando para passar o dia no estabelecimento dele, para eu dar umas sugestões, mas na verdade, ele queria me tirar de casa, por saber o quanto estava péssima e aproveitando falei do dinheiro que precisava inclusive para o aluguel, pois meu pagamento estava atrasado mais uma vez. Ele veio me buscar e percebi que não iria me pagar, então propus a ele que como meu aviso tinha terminado e tinha que arrumar minha mudança, poderia dar uma mão na parte da noite onde eu trabalhara e para que eu pudesse ter dinheiro para comer no dia seguinte, e jantaria no trabalho e ele de pronto aceitou, já que sua situação não era das melhores... nem a minha! E assim eu fiz durante um mês.
Quando tinha ido a São Joaquim da Barra contar para minha família, o Camilo ficou sabendo e de lá para cá não me deu sossego. Ao votar para Jaboticabal da consulta com o Dr. Speciali ele me ligou e fez a seguinte colocação:
-Olá, você está bem? Está sentindo algo? Foi ao Dr. Speciali, e ele?, perguntado tudo de uma vez
-Não sinto nada, Camilo, só estou triste com tudo e contei-lhe a visita ao Dr. Speciali e a reação do pai da Helena. Falava com voz fraca de tristeza.
-Lígia, eu te disse no carnaval e vou repetir. Quando me contou, perguntei se ele ia assumir, você me garantiu que sim, mas saiba que esta criança não vai ficar sem nome e sem pai, eu já te disse e prometo, coloco meu nome nela, e será meu filho, se ele não o fizer, sem nome não ficará, fique calma.
Quando me disse no carnaval, realmente não o levara a sério, mas naquele momento de dor, foi o ato mais lindo de todos, afinal estavam pensando no futuro do meu filho, que não era dele. Cai em prantos e agradeci muito, muito mesmo, e disse que precisaria dele por perto, se não se incomodasse, porque me sentia só.
Fez-me prometer que iria avisá-lo todos os meses do pré-natal, e me ligava sem eu precisar pedir de 15 em 15 dias durante TODA a minha gravidez. Os jardins de Monet são dedicados a Ele e a Helena, meus anjos da guarda!
Na manhã seguinte acordei com um telefonema, era o pai da Helena perguntando quando  eu ia embora e que ele ia fazer a minha mudança, mas tinha que ser rápido. Claro que discutimos pelo telefone e disse-lhe que não estava fugindo de ninguém, que agradecia, mas tinha que arrumar minhas coisas. Ele se irritou e de lá pra nosso relacionamento foi um desastre. Não nos falamos quase, pois antes de ir passei a maior humilhação da minha vida. Alguns pertences meus foram bloqueados de sair do prédio por inadimplência, isso era uma coisa que jamais poderiam ter feito, mas estava tão frágil que nem me toquei que entendia disso. Chorava sem parar. Nesta mesma madrugada eu caí em prantos e uma amiga de Santos me ligou e tentou me acalmar, mas era impossível, precisava colocar tudo para fora, foi quando às 2h00 da madrugada liguei para o Camilo e sem conseguir falar, ele entendeu, conversou muito comigo e disse que estava do meu lado para qualquer coisa, mas que ficar assim só faria mal ao bebê, e eu não conseguia parar, foi então que já sendo umas 4h00 ele começou a rezar comigo, e isso foi mais ou menos uma hora. Eu não falava, só pedia para ele me ajudar a tirar aquela angústia de dentro de mim e que não sabia se ia agüentar tudo que viria pela frente, que tinha medo. Essas eram minhas palavras e desejos e ele então começou a rezar e fui me acalmando até ficar com muito sono e cansaço e disse que precisava dormir, ele concordou e desligamos o telefone. A minha amiga que tinha ligado entrou em contato com o pai da Helena e ele apareceu na minha casa às 7h00 da manhã. Quando viu o meu rosto inchado de tanto chorar disse:
-Você chorou muito pelo visto, sabe que não pode fazer isso, não faz bem para sua gravidez.
Respondi ainda com sono
-Tá difícil, mas sei que vou melhorar...
-Fique bem, nos falamos outra hora, qualquer coisa me ligue, respondeu friamente
Foi embora, mas eu não tinha mais forças para chorar tamanha a minha indignação.
No dia 18 de Março de 1.998, meu patrão, percebendo que o pai da minha filha nada faria para eu mudar, e parte das minhas coisas já haviam ido embora, resolveu então me ajudar e pagou meu aluguel, e me levou para Ribeirão Preto, quase na hora do almoço. Foi difícil, mas deixei toda uma história para trás sem saber o que me esperava adiante.
Ao chegar em casa, minha mãe me recebeu bem e me ajudou a colocar tudo no lugar, foi quando percebemos que no quarto que eu tinha no apartamento deles não caberia o berço e meu irmão já havia dito que jamais cederia o dele para mim. No final da tarde meu pai chegou e tudo se clareou, talvez tenha sido depois do parto o dia mais lindo da minha vida, ele então se sentou a mesa e me chamou dizendo:
-Lígia, eu quero dizer que vocês dois são muito bem vindos. Esta casa também é sua e estamos aqui para te ajudar. Não importa o que tenha acontecido e como, vamos cuidar para que tudo dê certo. Você é nossa filha e está a caminho um neto, que vai ocupar esta casa como se fosse dele, por isso a única coisa que te peço agora, não pense em nada, apenas em se cuidar, sua gravidez requer cuidados e não estamos aqui para te julgar. Vamos seguir em frente e mais uma vez "Sejam Muito Bem Vindos"!
Foi emocionante para mim, não esqueço... Acho que nunca na minha vida senti tanta vergonha. Agradeci muito sem graça e dei-lhe uma abraço, sabendo que tudo aquilo era real, sendo que meu pai sempre foi muito transparente conosco. Minha mãe ouvia tudo ao lado, mas nela não consegui abraçar, ainda sentia um certo julgamento, mas com ele estava em paz e isso foi muito bom, me deu forças para seguir.
Fui ao meu primeiro pré-natal e entreguei o relatório do Dr. Speciali. O ginecologista leu, não concordou muito, mas como são amigos de profissão e da cidade, acatou. Encaminhou o pedido do AFP, eu já estava beirando os 3º mês, e assim foi.
Sempre que ia à S.Joaquim o Camilo era informado, aparecia, e quando cheguei na minha avó ele estava na porta do prédio me esperando.
Ele pedia sempre um relatório completo, eu acabava me divertindo com isso, me fazia bem e aí ele dizia novamente:
-Você já sabe, se o pai não registrar, essa criança não ficará sem nome, independente de como venha, está me ouvindo?
Respondia afirmativamente e perdi as contas de quantas vezes ele me disse isso por telefone ou pessoalmente, porque durante os meses do pré-natal, foi me ver em todos e seus telefonemas de 15 em 15 dias também foi até o final da gravidez.
Era ano de Copa do Mundo, e eu sempre gostei muito de futebol, como de outros esportes, acho que por não poder atiçá-los. Fiz o primeiro AFP  e o resultado foi muito bom, e na ultrasonografia também nada acusava, e a 1ª que fiz ao ver o bebê e contar seus dedinhos chorei muito de emoção e o médico foi muito simpático e disse:
-Vou ter que começar tudo de novo, você não prestou atenção em nada que falei, também com um bebê desses, não é para menos! E assim ele fez, começou tudo novamente.
Estava muito emocionada de saber que aquele serzinho perfeito estava dentro de mim, que era meu filho. Acredito que todos que passam por esta experiência sentem o que eu senti. Como sempre entrava sozinha até nestes exames. Cheguei a chamar o pai do bebê para me acompanhar no pré-natal e nos ultrassons, mas ele dizia sempre que tinha um compromisso, que tinha que trabalhar, então eu gravava e fazia uma cópia e mandava para ele pelo correio.Tinha feito uma promessa para ele e para mim, de que depois da maneira que lhe dera a noticia da minha gravidez, não iria errar mais, que sabia da minha crueldade e assim fiz, passei por cima do meu orgulho e foquei no meu filho, mais nada, e ele fazia parte da vida dessa criança, gostando ou não, sendo um bom pai ou não, mas nunca mais errei daquela maneira.
Minha barriga quase não aparecia, mas eu não sentia mais nada, nem sono, e todas as vezes que podia estava sempre muito arrumada. Acho que mulher grávida pode tudo, porque ela está no auge de sua beleza interna e externa. Com isso, todos me diziam que minha barriga era de menino, que eu provavelmente seria mãe de um moleque. No fundo, bem no fundo, não concordava, algo me dizia que ia ser uma menina, mas as lendas me levavam a crer que teria que brincar de carrinho.
Ainda não havia completado 5 meses, fui para mais uma ultrassonografia, porque o hospital tinha me convidado para fazer uma filmagem por conta do formato do meu corpo e que tudo seria melhor e eles precisavam apresentar em um congresso, mas tive que assinar um termo de exclusão de direitos autorais, aceitei, afinal se fosse para ajudar, por que não? Fizeram o primeiro com a roupa do hospital, um monte de pessoas filmando, uma sala pequena, mas toda equipada. Achei aquilo o máximo. Terminando, meu médico disse:
-Agora nos vamos fazer o ultrassom para você e terá algumas partes que vou editar. Você quer saber o sexo, ou vai deixar na surpresa?, perguntou sorridente
-Eu gostaria muito de saber, se tiver jeito, quero sim, respondi ansiosa.
-Você já pintou o berço do seu bebê de azul? , perguntou-me sem olhar no meu rosto.
Aquilo foi como um balde de água fria  e responde timidamente:-Não, não pintei!
Ele disse sorrindo.
-Que bom porque terá que pintar de rosa, é uma menina, e eu tenho certeza, ela é muito serelepe, está com as perninhas abertas, o que me dá condições de te dar esta certeza. Por isso disse que ia editar, não quero que saibam o sexo, será algo entre nós, mas ela quer te avisar que está chegando
As lágrimas escorriam de emoção  e  eu então disse:
-É a Helena, Doutor, a minha Helena, será um sonho mais do que realizado, um presente de Deus mesmo!
Saí de dentro da sala totalmente emocionada e minha mãe me esperava do lado de fora, então disse:
-A Helena está chegando...é a Helena, mãe, a minha Helena!
Fomos para casa e ao colocarmos a chave na porta, ouvimos o telefone tocar sem parar. Eu sai correndo para atender, era meu pai e logo foi perguntando:
-E até você fez o ultrassom, deu para saber o sexo?
-Pai, é uma menina, ela estava com as perninhas abertas e o médico conseguiu dar certeza absoluta. É a Helena pai, respondi feliz
-Graças a Deus, rezei tanto e pedi tanto que fosse uma menina. Viu, agora nunca mais estará sozinha? Ele me atendeu, Parabéns! Estou aliviado, feliz e saindo daqui, já chego e conversaremos melhor, disse ele também feliz, e pediu para falar com minha mãe, repetindo as mesmas frases, de acordo com ela.
Imediatamente liguei para o pai da Helena, contando a novidade e ele estava em um lugar com todos os nossos amigos e perguntei:
-O que você acha que deu? Brincando e feliz
-Uma menina, tenho certeza que serei pai de uma menina, arriscou.
-Como assim tem certeza? Indaguei
-Não consigo me ver como pai de menino, acha...
-Realmente é uma menina sim e olha, você se importaria se ela chamasse Helena?Consultei, afinal ele era o pai.
-Helena? Que nome estranho...
Ouvi os gritos de alegria da nossa turma e da escolha do nome que era maravilhoso, então disse:
-Gostaria muito que fosse Helena, mas você tem outra idéia, eu tenho que ir para Jaboticabal este final de semana.
-Acho que não vou ter muita escolha, acharam lindo o nome, se mudar, acho que apanho, mas assim que chegar conversamos, mas dessa vez pode nos encontrar para falar disso. Avise-me quando chegar, vai ficar na nossa amiga de Santos? , perguntou
-Sim, como sempre. Aviso-te assim que chegar, mas vou aí para poder ver se recebo algo, não quero entrar na justiça, mas a coisa esta ficando cada dia pior, comentei.
Despedimo-nos e assim foi nossa conversa cheia de alegria. Fiquei feliz!
Fui para Jaboticabal, mas nos falamos muito pouco. Ele perguntou onde estava minha barriga, mas que meu seio estava lindo e grande. Depois não o vi mais.
No 5º mês para o 6º mês tinha que repetir o AFP e o fiz a pedido do Dr. Speciali.
Manhã de Copa do Mundo, jogo do Brasil e algum outro time, não sei dizer qual, fomos buscar o resultado, porque tudo fecharia às 13h00, e assim o fiz, e como o 1º  tinha dado tudo certo, pela primeira e última vez na minha vida abri o exame e quase tive um treco. Estava alteradíssimo, de forma inexplicável. Desmoronei e na hora liguei para meu ginecologista e ele me fez a seguinte pergunta:
-Lígia, o exame estava em nome de quem?
- No do Sr. Dr. respondi timidamente
-Então, isso é para você aprender a não repetir este ato.
-Mas, Doutor, não imaginava isso, o 1º deu tudo certo, imaginava que seria apenas uma confirmação do primeiro.
-É, mas não foi, e agora temos vários fatores, inclusive o exame foi feito errado, por isso, amanhã procure o médico da ultrassonografia e solicite uma de emergência e explique o que acontece. Eu vou ligar no laboratório para saber o que houve e como foi feito este exame e que você talvez tenha que refazer, me orientou.
Liguei para o Dr. Speciali que me pediu para não abrir mais nenhum exame, por conta destas surpresas, e que teria fazer o ultrassom urgente e deixá-lo a par de tudo. Não tinha nada a fazer, apenas aguardar e disse que depois disso ia solicitar um ultrassonografia para detectar talvez um lábio leporino. Fique de pedir o  pedido do exame.
Fiquei acusada, as lágrimas vinham com medo e poucas, estava mais forte, apenas passei uma noite em claro torcendo para o médico me atender, e ainda bem deu certo, aliás, exame particular é na hora...
Cheguei ao hospital por volta das 9h00 sem dormir, abatida, e expliquei tudo que havia acontecido no dia anterior e o médico foi muito minucioso, ficou exatamente 40 minutos, apenas na coluna da Helena e me afirmava friamente:
-Lígia, pegue estes exames e jogue fora, sua filha não tem absolutamente nada. Ela é totalmente normal, eu posso afirmar isso para você, acredite em mim e jogue tudo isso no lixo, por favor. Olha esta coluna, perfeita!
Eu sorria de forma meio amarela, sempre na dúvida do por que tudo tinha dado tão errado e alterado. Queria respostas e ninguém sabia me dar, nem os médicos...
O ginecologista solicitou então um exame para diabetes, porque eu não parava de engordar, eram 3 kg por mês e isso poderia também estar atrapalhando. Fui ao laboratório e fiz o PIOR exame da minha vida. Nada é parecido com aquilo. Foi o único dia que senti enjôo, mas por conta do suco que me obrigaram a tomar.
Na consulta seguinte, ele reiterou o pedido do lábio leporino, o exame de diabetes não tinha dado nada, ainda bem, e me pediu para repetir o AFP. Achei uma tortura, era contra, mas ele me disse que tinha ligado no laboratório e se informado em vários, e precisava tirar esta dúvida, então aceitei contrariada, mas aceitei.
No meu 7º mês, meu médico não deu o resultado do meu AFP, mas me fez uma colocação que não esqueço dizendo:
-Lígia, eu fiz tudo o que podia, fui a Ribeirão Preto, reuni-me com amigos do H.C., consultei  alguns laboratórios e não acho a causa deste exame ter dado alterado, nem o exame dá para ver a síndrome de Down, não temos mais tempo. Agora temos que aguardar um aviso da natureza para podermos fazer o seu parto.
- O Senhor quer dizer que nada pode fazer, só rezando?
-Só Lígia, cientificamente temos que aguardar, não tenho mais o que fazer, este procedimento eu não uso, este exame nunca recomendei e não esperava por tudo isso. Vamos aguardar. Vá para casa e torcerei junto com você para dar tudo certo.
Chorar?...Nem pensar, estava prestes a ser mãe, não me era permitido. Encontrei o Camilo como de costume, ele disse as mesmas coisas de sempre, mas desta vez estava assustado como eu. Perguntou como estava e respondi:
-Em final de gravidez, daqui uns dias nasce!
Voltando a Ribeirão Preto, procurei não pensar, mas meu pensamento estava no resultado que o ginecologista não tinha me dado, estava intrigada com aquela atitude, e me perguntava por quê? Tinha repetido então o mesmo resultado, foi o que imaginei.
Ao chegar em casa, sentei na sacada e acendi um cigarro, porque ainda fumava 5 (cinco) por dia, às vezes até menos e terminando  olhei e na frente tinha um terreno, que ainda existe e é muito verde, olhei e pensei em Santa Rita de Cássia, de quem sou devota até hoje, e tive uma confirmação dela, linda, rezei para ela e em pensamento disse o seguinte:
-Santa Rita, eu acredito que Deus tem tantos problemas maiores do que o meu neste mundo que está aí cheio de miséria e pobres e crianças passando fome, mas queria que a Senhora intercedesse por mim; se ele achar que mereço uma filha normal, serei grata eternamente, mas se ele achar que devo ter uma filha deformada, ou com qualquer problema, vou amar da mesma maneira, pode ter certeza. Interceda por mim, por favor!
Naqueles minutos tinha duas alternativas:
a) ou cuidava do enxoval, coisas para ter o bebê, e cuidava de mim;
b) ou iria enlouquecer.
Nada podia fazer... Nada!
Optei pela primeira opção e como se tivesse um botão, desliguei e fui cuidar das roupinhas, arrumar a malinha, porque já estava de 7 meses e tudo poderia acontecer dali para frente. E assim fiz...



sexta-feira, 9 de março de 2012

Relato III


ESCOLHA:


Ao voltar no Dr. Speciali, depois de alguns dias, detectamos que o problema era o mesmo, então ele disse:
-Lígia, voltarei aos seus medicamentos anteriores que estavam dando certo, mas há uma condição para isso, e você terá que escolher entre:
- Tomar o Depakene e não ter filho; continuar com os medicamentos e correr riscos de uma nova crise.
O fato de estar tomando o Depakene não impedirá você de engravidar, mas tudo será mais complicado, teremos que fazer uma nova retirada, e não  saberemos quais as consequências que podem vir a ocorrer e isso terá de ser muito bem conversado e programado com seu namorado ou companheiro quando desejarem, mas a escolha está com você. Eu volto a repetir, previna-se porque não poderá ficar grávida. 
Mais uma vez me vi em uma encruzilhada, onde apenas eu poderia tomar a decisão e talvez a mais difícil da minha vida, porque sempre amei crianças e sonhava um dia me casar e ter filhos..., enfim, ser mãe! Como sempre e de costume desabei em prantos. Aquilo veio como mais uma bomba que teria que desarmar na minha vida e tentar conseguir conviver com ela. Era muito difícil e não tinha muito tempo, afinal, estava ali para isso, perguntei então quais seriam as consequencias de uma gravidez, e ele resumidamente me disse:
-Ao engravidar por conta do medicamento, talvez terá sérias consequencias: primeiro, que terei que retirar o medicamento imediatamente, não poderá continuar tomando; segundo, por efeito do tempo que tomou, correrá o risco de ter um filho com deformações desde o feto, por último, você pode ainda sem o medicamento ter  crises convulsivas, o que complicaria sua gravidez. Este medicamento para você é ótimo, mas tenho que ser franco com relação a isso.
Foi a escolha mais difícil da minha vida, mas não poderia ser diferente, então, mesmo em prantos, optei por tomar o Depakene e não engravidar, pelo menos por enquanto, porque com o avanço da Medicina, tinha esperanças disso acabar e acharem um outro medicamento, ou uma solução.
Morava em Ribeirão Preto nesta época com minha prima e ao chegar em casa, deitei-me e chorei até adormecer...
Os dias passavam lentamente, não tinha vontade de absolutamente nada. Uma manhã, ao levantar-me, fui até a cozinha e ao ver um copo sujo na pia, sentei e chorei sem parar por não ter forças para lavá-lo. Liguei para minha mãe  e ela veio então passar uns dias comigo, mas nada resolvia, só me ajudou com os afazeres da casa, mais nada, tudo dependia de mim, e da minha aceitação. Não comia direito, não saia, não tinha ânimo para nada, nas horas vagas dormia, a única coisa que ainda conseguia fazer era trabalhar, porque naquelas horas meus pensamentos estavam ocupados com outras coisas, mas não podia parar pois tudo voltava, com isso bati as metas da loja e então fui convidada para gerenciar uma filial que eles estavam abrindo na cidade de Jaboticabal-SP, lugar que só tinha ido uma vez e de passagem com meu cunhado e minha irmã porque ele se formou lá, mais nada. Imediatamente aceitei o convite e sem consultar minha família arrumei minhas malas e fui embora na certeza que tudo iria passar, mas infelizmente minha angustia também foi...um ledo engano.
Meu apartamento em Jaboticabal era uma graça, tinha de tudo, menos o que precisava..., companhia para espantar minha tristeza. Fiz amizades com duas pessoas que vieram a ser minhas melhores amigas até hoje, nada nos distanciou, mas até se tornarem sólidas eu chorava todos os dias no final da noite com crises de solidão. Olhava para a rua deserta e com uma luz fraca, típica de cidades pequenas,  chorava por tudo, ou por nada... Continuava a não me alimentar direito e já fumava sem parar, chegando a 2 (dois) maços de Marlboro filtro amarelo por dia, muito coca-cola e café sempre.
Tive uma mudança de emprego inesperada e continuei em Jaboticabal, tendo a oportunidade de conhecer um médico, que regula idade comigo, casado e que tinha dois filhos. Contei a ele minha história e minha angústia, que já não era tanta, por ter se passado um ano desde a minha escolha, mas ainda me fazia muito triste. Ele entendeu e um dia teve a infelicidade de levar seus filhos para eu conhecer e foi neste momento que entendeu toda a minha dor. Eu não conseguia chegar perto das crianças, dei o sorriso mais amarelo que consegui e disse:
-Parabéns, seus filhos são lindos!
Era tudo que conseguia dizer, nada mais. Não me aproximei, não conversei, não brinquei como sempre fiz e faço até hoje.
Ele voltou mais tarde e me pediu para conversarmos e fui... ele então me disse:
-Lígia, a sua angústia de não poder ser mãe é muito maior que todos podem supor, eu percebi sua reação e fiquei assustado, sendo que você disse sempre gostar de crianças, mas eu consigo entender e vou estudar, para entender porque não pode trocar os medicamentos, o que acontece no seu organismo e tentar descobrir como ele reage. É muito difícil, mas vou tentar.
Naquele momento via uma luz no fim do túnel e minha esperança parecia voltar, de leve, mas parecia que algo de bom podia acontecer.
Nesta troca de emprego, também conheci um rapaz, ou melhor, fui apresentada para ele oficialmente, porque já o conhecia da cidade e nos encantamos e vivemos uma história de amor muito maluca. Uma noite estava no meu apartamento vendo o Fantástico e sem querer toquei no seio e percebi que tinha um nódulo bem no centro e desatei a chorar, porque aos 25 anos já tinha passado por isso, fui operada e sabia o que era esperar por uma biopsia. Ele tentou me acalmar e logo na segunda feira estava no meu ginecologista em Jaboticabal. Não conseguimos fazer a pulsão, então teria que abrir e retirar. Na sexta feira da mesma semana , lá estava eu entrando no centro cirúrgico para tirar 1/4 do meu seio direito. Foi horrível... Não me olhava no espelho, ao tomar banho chorava sempre, sem aceitar e aos poucos este meu grande amor, foi me mostrando o quão era importante na vida dele mesmo depois da cirurgia, até que voltasse a me aceitar e voltar ao normal, conseguindo encarar tudo, graças ao carinho e dedicação naqueles dias, senão meses, mas eu trabalhando de segunda a segunda, ele trabalhando e vivendo a vida, afinal o comprometimento com a empresa em que estava era meu e não dele, mesmo assim não conseguíamos nos desgrudar, e ao mesmo tempo meu ciúme era algo indescritível, só nos fez mal e terminamos.
Na chegada das festas natalinas  passamos a noite toda juntos, conversamos, colocamos nossas diferenças em dia, rimos e eu chorei muito e disse tudo o que sentia.  No dia seguinte fui passar o natal em São Joaquim da Barra e não nos vimos mais. Voltando para Jaboticabal na antevéspera do meu aniversário, estávamos todos reunidos e ele fez um comentário muito infeliz que me aborreceu profundamente ao saber, então, e não nos falamos mais também. Voltei para S. Joaquim para a virada do ano e fui até a Chopperia da Bia, como era de costume em todos os anos. Usava um vestido vermelho, era a virada de 1997 para 1.998 e meu aniversário, e ao entrar na choperia, o meu ex Camilo, que também namorava outra brincou:
-Meu Deus você na virada do ano de vermelho, 1998 promete!!!...
Dei uma gargalhada e sai de perto desdenhando de suas palavras...
1.998 prometeu e cumpriu...
Ao voltar para Jaboticabal não falava mais com este meu ex namorado, por estar muito aborrecida ainda, foi quando uma semana depois ele entrou por volta das 00h00 onde trabalhava e disse:
-Até quando você não vai falar comigo?
Então respondi:
-Acho melhor ficarmos apenas nos cumprimentos, assim não nos magoamos.
Ele retrucou calmamente:
-Vim para conversar com você, sei que vai demorar um pouquinho e vou esperar para te levar embora, assim é melhor.
-Eu vou demorar, afirmei novamente.
-Eu disse que espero o tempo que for preciso, sem falar com você hoje não fico, ele disse.
Fiquei feliz por uns minutos, mas estava chateada e ao mesmo tempo queria ouvir suas explicações, acredito até hoje que todos temos direito à defesa.
Fomos para meu apartamento, e ao entrar no prédio ficou parado, então no estacionamento de pronto disse:
-Eu não vou ficar dentro de um carro, em um estacionamento conversando da minha vida, se quiser subir tudo bem, será bem vindo, caso contrário nos falamos outra hora e fui saindo.
Ele mais do que depressa  fechou o carro e veio atrás.
Havia mostrado um cd da Enya de capa azul quando nos conhecemos e todas as vezes que ia a minha casa colocava para ouvir e desta vez não foi diferente e comentou:
-Você colocou um tapete novo, que lindo, posso me deitar nele? Pediu
-Pode sim, ganhei da minha mãe de Natal e cobre a sala toda, ficou legal, né?
-Ficou sim, eu gostei muito!
Acomodou-se no chão e eu estava em uma poltrona, porque tínhamos que nos entender nem que fosse apenas como amigos, mas ele me convidou para que deitasse do seu lado e cedi... Foi maravilhoso!
Passamos a nos ver eventualmente, sendo que num determinado dia ele não estava bem, pediu para dormir na minha casa, então o acolhi. Na manhã seguinte fiz um belo café da manhã e novamente foi tudo maravilhoso!
Meu trabalho sempre ocupou muito de mim e nos víamos pouco e eu trabalhava mais e mais, o lugar estava se tornando um sucesso e eu sempre muito cansada. Comecei a sentir cólicas e meu seio doía muito, mas minha menstruação não descia. Depois de quase 30 dias, resolvi procurar um ginecologista, mesmo porque durante este período tivera uma infecção renal e havia tomado antibióticos fortíssimos. Era o mesmo ginecologista da minha cirurgia. Um homem adorável, sensível, educadíssimo e além de tudo competente.
Expliquei tudo para ele, aí me perguntou a minha ultima menstruação, isso era por volta das 12h00, e então ele disse:
-Líginha, tudo leva a crer que você está grávida!
-Como... O que o Senhor disse? Respondi horrorizada... Como, meus seios doem, estou com cólicas menstruais, isso não pode ser, não tem cabimento, meus sintomas são de menstruação.
-Seus sintomas são de gravidez também, são os mesmos às vezes, respondeu com um sorriso feliz
-Não pode ser, Doutor, isso não pode ter acontecido comigo, indaguei, para variar com os olhos escorrendo.
-Vou pedir um exame só para tirar a prova, mas tenho quase certeza e você pode ir agora fazer, o Laboratório do Hospital abre às 14h00, recomendou.
-Mas exames de gravidez não se faz pela manhã em jejum?
-Neste caso, Líginha, poderemos fazer até às 18h00 que dará positivo, às 6h00, às 8h00. Você tem sentido algo?
-Esta semana tive uma tontura pela manhã, mas não havia comido nada ainda, mas só.
-E sono? Perguntou
-Tenho sentido muito, mas trabalho demais, já viu...
-Você está namorando? Perguntou já com ar preocupado.
-Não. Respondi secamente
-Mas sabe de quem é?Perguntou assustado
-Dr., estava namorando aquele rapaz que o Senhor viu no restaurante e não tive mais ninguém, gosto muito dele.
-É mesmo, ele vai gostar de saber da novidade então, quem sabe vocês não se acertam?
Eu chorava compulsivamente só de pensar e disse:
-Dr., meu problema não é ele, ou se vamos ou não ficarmos juntos. O meu problema é o meu pai, mas acho que o Senhor está enganado e dará negativo.
-Lígia, pare de chorar, gravidez é saúde. Quando você chorou pelo seu nódulo achei justo, mas agora tem que comemorar, uma criança é sempre uma alegria nas nossas vidas. Disse ele feliz e sorrindo e me entregando o pedido do exame.
-É porque o Senhor não conhece meu pai, se conhecesse não falaria isso e entenderia meu desespero, mas tenho fé que dará negativo.
Fui embora para almoçar e fazer os exames, mas estava morrendo de sono, quase não conseguia me conter.
Cheguei ao laboratório, entreguei o pedido e ainda descobri que não era o exame de sangue, era o de urina e tinha que colher o material. Disse para enfermeira:
-Este medico só pode ser doido, eu não estou grávida, imagine, com o tanto de remédio que tomei e há 2 dias atrás ainda meu braço saiu fora do lugar, tive que tomar uma injeção para a dor depois de colocá-lo no lugar, não estou grávida coisa nenhuma.
A enfermeira me ouvia sem responder nada, apenas com aquele sorriso de enfermeira, só me perguntou se eu ia esperar o resultado e disse que sim.
Fui para fora do laboratório, acendi um cigarro, e aguardei. Quando ficou pronto, peguei o dinheiro da carteira para pagar, mas minha curiosidade era maior. A enfermeira ao me ver abrir o exame virou de costas, então abri o envelope e sozinha vi a palavra:
POSITIVO
Empurrei o dinheiro e sai sem rumo. O hospital tinha várias portas e eu entrava e saía de todas sem saber onde estava, foi então que a enfermeira que tinha me ajudado no dia do meu braço me pegou e me levou para dentro da ortopedia e perguntou o que houve, eu disse:
-Me arruma um telefone pelo amor de Deus, só isso, um telefone
-Ela me levou até ele, e liguei para meu patrão que na hora disse:
-Nossa senhora, além de tudo perdi a funcionária
Eu só dizia:
- Deu positivo, deu positivo, o que eu faço agora?...Meu pai?...Minha familia?
Ele perguntou onde estava e eu disse que não sabia, apenas que estava no hospital, perguntou a rua, eu não sabia, foi então que a enfermeira tirou o telefone da minha mão e explicou que lado do hospital estava. Levou-me lá para dentro e tentou me consolar..., só pensava nos meus pais, mais nada.
Sai do hospital com o exame na mão, que tenho até hoje, e sentei em uma mureta chorando sem parar. Uma senhora veio e me perguntou:
-Moça,esta sentindo alguma coisa, posso ajudar?
-Estou grávida!, respondi com ira.
-Mas isso não é motivo para choro, disse ela
-É porque a Senhora não tem o pai que tenho.
Meu patrão chegou e fomos tomar uma garapa, ou caldo de cana, para eu acalmar, porque dali para frente nada mais podia tomar.
Ele me pediu muita calma para eu contar para o pai da criança e eu só pensava nos meus pais, mais nada. Era 20 de Fevereiro de 1.998, sexta feira de carnaval e a profecia do Camilo havia se tornado realidade. Daí para frente minha vida mudou, foi literalmete um divisor de águas!
Ao chegar ao meu trabalho, sentei em uma mesa e rezei, pedi a Deus para me dar uma luz e como se alguma coisa me tocasse, talvez imaginária, mas senti uma calma e uma alegria tão grande que não sabia explicar, sabia apenas que estava feliz, muito feliz!
No dia seguinte procurei o pai da minha filha e ele não quis falar comigo, por motivos banais, então a hora que ele entrou onde eu trabalhava, CRUELMENTE lhe disse:
-Parabéns, você vai ser papai!
Ele assutado perguntou:
-Papai, de quem, quem está gravida?
Dei um sorriso irônico, tenho a maior consciência que fiz isso erradamente.
Ele se desesperou, estava com uma série de amigos e foi falar com um deles, ele então orientou para que pedisse o exame. Ele voltou e me pediu, eu então imediatemante tirei de dentro da bolsa. Ele mostrou ao amigo e começou a chorar. Meu patrão entrou e me disse bravo:
-Eu te pedi para ir devagar, com calma...
Respondi:
-O laboratório não me disse que o gato ia subir no telhado, me deu a notícia da mesma maneira. Respondi com olhar triste.
 Neste momento era um misto de medo e de raiva. Medo do meu pai e raiva dele, por não ter falado nada, absolutamente nada! Foi embora, desaparecendo por dois dias.
No dia seguinte minha mãe ligou e percebeu minha voz estranha e perguntou o que eu tinha, e não queria falar nada sem antes chegar em S.Joaquim da Barra, ela então disse que caso não falasse, não desligaria o telefone e mais uma vez fui fria:
-A Sra. está sentada, porque estou grávida!
Imediatamente a resposta foi surpreendente:
-Seu Tio Zé chegou e nos falamos depois.
Fiquei literalmente sem saber o que fazer, não imaginava esta resposta, foi então que me apavorei ainda mais, porque se a minha mãe tinha reagido assim, imagina meu pai então...
Quando foi mais tarde a minha irmã ligou gritando de felicidade. Disse que finalmente seria Tia que era seu sonho e que então ia entender tudo o que eu dizia. Expliquei que estava apreensiva e disse que não contaria jamais para o nosso pai, ela então ficou de dar a ilustre noticia para ele e perguntou se ja havia ligado para o Speciali e eu disse que não, então pediu para ligar imediatamente e foi o que fiz...Meu Deus, deveria ter esperado um pouco mais!
Dr. Speciali sempre me atendeu imediatamente, quase nunca tive que esperar muito e foi o que ocorreu, então disse a ele calmamente:
-Oi Dr., tudo Bem? Estou ligando porque preciso contar uma coisa ao Sr.
-Oi Lígia, tudo bem e com você, pode falar, respondeu amavelmente
-Dr., eu estou gravida! disse secamente
Ele então alterado disse:
-Você está louca, exclamou!
-Não, estou grávida mesmo, e o que faço? Questionei.
Ele se alterou totalmente e reagiu
- Você não podia ter deixado isso acontecer, quantas vezes te expliquei, pois agora pare de tomar o Depakene e passe imediatamente em uma farmácia e comece a tomar ácido fólico e na quarta-feira de cinzas quero você dentro do meu consultório, estarei te esperando.Orientou-me muito bravo
Então questionei:
-Mas Dr., eu vou parar o Depakene assim, de uma hora para outra, da outra vez demoramos tanto tempo, não fará mal
Ele sem dó disse:
-O pior você já fez, que foi ficar grávida, siga o que estou falando e não poderá ser diferente, sabe que corre riscos, por isso quero e estarei esperando para conversarmos.
Desliguei o telefone mais uma vez em prantos, e mais uma vez só pensava na reação do meu pai, ja que o meu médico foi tão duro e ainda precisava saber se o pai ia reconhecer ou não a criança, porque sabia que eles iam perguntar e todos o conheciam, frequentava a casa dos meu pais como meu namorado, era da familia também.
No dia seguinte veio a parte mais triste, que foi falar com o pai da Helena:
Um amigo em comum me ligou e disse que eles iriam no meu trabalho antes de abrir para conversarmos, e na hora marcada, por volta das 14h00 do dia 22 de fevereiro de 1998, nos deparamos.
Literalmente não sabiamos o que fazer. Eu me sentei poque minhas pernas estavam bambas e ele acendeu um cigarro longe e disse passando a mão na cabeça:
- Taí, eu não sei nem por onde começar
-Vamos começar do começo, simples eu disse
- Qual é o começo?, disse ele sem me olhar nos olhos
-Eu disse, veja bem, o começo é que estou grávida e é seu ! Você sabe disso e  sei também que não temos condições de ficarmos juntos por várias razões que conhecemos, e se ficassemos só por um filho seria um desartre. Só que preciso de uma única resposta. Vou para São Joaquim amanhã e meus pais já sabem, mas meu pai vai perguntar se vc vai registrar ou não, porque ficarmos juntos eu já me antecipei, é só isso que preciso saber, disse aflita.
-Que é meu eu não tenho a menor dúvida, sei que é meu, e te dou a minha palavra e pode dizer ao seu pai que vou registrar, vou dar meu nome, mas infelizmente não estou em condições de assumir vocês dois, não ganho para sustentar uma família e sei que para se ter um filho precisa-se de dinheiro.
Aquilo soou como a maior covardia que podia ter escutado na vida, então retruquei ainda friamente.
-Fiquei tranquilo, por enquanto de nada preciso, tenho plano de saúde na minha cidade, minha familia vai me ajudar e vou embora de Jaboticabal o quanto antes porque você sabe tanto quanto eu que não podia ter ficado grávida, mas fique tranquilo, siga tua vida que não vamos te atrapalhar, mas eu precisava de pelo menos esta resposta, mais nada, e como vai ser de agora para frente só Deus sabe.
-Você ja foi ao médico, precisa se cuidar, ele questionou.
-Não, vou ao meu neurologista primeiro, que já me deu a maior bronca, mas terei que enfrentá-lo, talvez seja a parte mais difícil, mas tenho que fazer, isso tenho que passar e quando voltar te aviso e te conto o que ele disser.
E assim ele desceu as escadas e eu caí em prantos. Não imaginava que depois de tudo seria uma conversa tão fria, como um contrato de banco ou de locação.
No período da noite minha irmã me ligou e disse que nosso pai já sabia e tinha reagido bem e quis falar com ele pois não acreditei muito na sua reação, mesmo porque por telefone era muito complicado, mas senti ele frio.
Ao chegar em São Joaquim, descobri que todos estavam na nossa casa em Pioneiros, uma currutela, distrito da cidade de Guará, no estado de São Paulo.Fomos então para lá. Minha irmã estava super feliz, na maior euforia, meus sobrinhos também, e minha mãe me recebeu bem, foi então que perguntei:
-Cadê meu pai? indaguei
-Está no pomar, vai lá esta fuçando como sempre.
Todos já tinham almoçado, menos eu, e lá fui...
Ele me viu, se aproximou e sem que eu nada falasse disse:
-Dizer para você o que deveria fazer para isso não acontecer não adianta mais, o importante agora é você se cuidar, já foi ao médico?
-Não, vou no Dr. Speciali primeiro e vou ter que ter o nene aqui por conta do plano que o Sr. ainda paga para mim, o de Jaboticabal está em carência.
- Então vá ao Speciali e depois no seu ginecologista urgente, e agora me fala o que você quer comer, porque precisa se alimentar, e pelo visto não almoçou. Fale-me o que quero e vou fazer. Quer um bifão daqueles na churrasqueira?
Abri um sorriso de alivio e balancei a cabeça concordando e comi como há 4 dias não comia. 
Foi mravilhoso, até hoje me emociono de lembrar!