quinta-feira, 15 de março de 2012

1.000  visitas no  Blog. Muito Obrigada!
Sinto sempre vontade de continuar.Ele ainda não tem 1 mes...
Não tenho muito o que falar...escreverei depois.

Beijos!!!!!!!!!!!!!!  Leiam abaixo o RELATO IV

Relato IV



Gravidez

Quarta-feira de cinzas e lá estava eu no consultório do Dr. Speciali, sem saber o que me esperava...
Ao ser chamada, entrei parcialmente tranqüila, afinal não tinha muito que fazer, isso era o que eu achava, e tudo ia normal e eu como sempre sozinha, sem ninguém para me acompanhar.
Ele então se dirigiu a mim em tom firme e diz:
-Como você deixou isso acontecer?...Quantas vezes alertei?...Não é criança, as conseqüências podem ser sérias, como pode não acontecer nada, mas teremos que viver isso. Eu pedi tanto e você não me atendeu, disse com voz de decepção
Neste momento meu coração apertou, ele nunca havia falado comigo tão firmemente, nem meu pai fez isso e continuou...
-Vou pedir pelo menos para você não comprar uma chupeta para esta criança até lá pelo menos seu 5º (quinto) mês de gravidez, porque pode sofrer um aborto espontâneo por conta de uma crise convulsiva. Lígia, Lígia, você pelo menos está tomando o ácido fólico como recomendei?
Nada o fazia acalmar.
Eu balancei a cabeça positivamente e  então perguntei...
-Dr, o que pode acontecer agora com a retirada do Depakene?
-Tudo e nada, agora temos de aguardar, pois você terá que fazer alguns exames que eu quero acompanhar, e se eu perceber que estes exames te fazem correr risco de vida, teremos que agir rápido, mas não acredito que chegará a tanto. Essa criança pode vir com deformações complicadíssimas, que para cuidar ao longo da vida causarão muito sofrimento... Pode vir com lábios leporinos, que também é um desgaste por ter que passar por varias cirurgias... Fora isso, pode não nascer, ou pode correr tudo bem. Agora será que  você tem noção do que estou dizendo. Estou muito preocupado, não quero este tipo de sofrimento para você, nem para ninguém. Saiba que tive um paciente que perdi há pouco tempo e o quanto era difícil tratá-lo, e ele se foi aos 16 anos, e por mais inteligente que fosse seu organismo não agüentou. As complicações eram muitas. Não desejaria jamais isso para você.
Eu chorava sem parar e ele não teve pena, por momento algum me consolou, apenas foi frio e profissional e eu assustei muito, não era esse Dr. Speciali que estava acostumada, mas acatei tudo e me curvei.
Ele então perguntou quem seria meu médico, eu falei e ele fez um relatório do meu problema, dos medicamentos e solicitou um exame aos 3 meses chamado AFP (Alfa Feto Proteína). Este exame era para detectar se existia alguma anomalia na criança, repetido no 6º mês, seguido de Ultrassonografia feito por um medico escolhido a dedo na Maternidade Sinhá Junqueira. Estas ultrassonografias também não eram cobertas por nenhum plano e nem os exames de sangue.
Saí do consultório dele em Ribeirão Preto completamente arrasada, e voltei para Jaboticabal  chorando, confiante, mas assustada com suas palavras firmes. Lembrou-me a frieza do médico do H.C. de anos atrás.
Estava com 32 anos e 42 kg, e o que era mais preocupante, ainda fumava,  sem trabalho, porque havia pedido demissão, cumpria aviso,  porque queria voltar para Ribeirão, mas isso  antes de saber da gravidez. Resumindo: grávida, sem trabalho, sozinha, sem dinheiro, com um patrão que não me pagava direito, me devia, e correndo risco de vida ou de ter um filho cheio de problemas. Não sabia em que pensar direito, então coloquei a gravidez em primeiro lugar, mas para isso tinha que enfrentar mais um problema que era voltar para a casa dos meus pais, talvez de tudo o pior, ou o melhor...
Chegando em Jaboticabal liguei para o pai da Helena (ainda não sabia que era uma menina) e pedi para ele me encontrar no meu apartamento e ele assim o fez na manhã seguinte.
Expliquei tudo que o médico tinha me dito e ele sem saber o que fazer ouviu tudo e disse:
-Fazer o que, tenho que trabalhar, nos falamos depois... E se foi.
Não conseguia levantar para abrir a porta e nem dizer tchau. Parecia que acabava de conversar com um estranho, e isso me deixou mais triste e ali fiquei por alguns minutos para poder tentar, sem conseguir entender a reação dele.
O telefone tocou, era meu patrão me convidando para passar o dia no estabelecimento dele, para eu dar umas sugestões, mas na verdade, ele queria me tirar de casa, por saber o quanto estava péssima e aproveitando falei do dinheiro que precisava inclusive para o aluguel, pois meu pagamento estava atrasado mais uma vez. Ele veio me buscar e percebi que não iria me pagar, então propus a ele que como meu aviso tinha terminado e tinha que arrumar minha mudança, poderia dar uma mão na parte da noite onde eu trabalhara e para que eu pudesse ter dinheiro para comer no dia seguinte, e jantaria no trabalho e ele de pronto aceitou, já que sua situação não era das melhores... nem a minha! E assim eu fiz durante um mês.
Quando tinha ido a São Joaquim da Barra contar para minha família, o Camilo ficou sabendo e de lá para cá não me deu sossego. Ao votar para Jaboticabal da consulta com o Dr. Speciali ele me ligou e fez a seguinte colocação:
-Olá, você está bem? Está sentindo algo? Foi ao Dr. Speciali, e ele?, perguntado tudo de uma vez
-Não sinto nada, Camilo, só estou triste com tudo e contei-lhe a visita ao Dr. Speciali e a reação do pai da Helena. Falava com voz fraca de tristeza.
-Lígia, eu te disse no carnaval e vou repetir. Quando me contou, perguntei se ele ia assumir, você me garantiu que sim, mas saiba que esta criança não vai ficar sem nome e sem pai, eu já te disse e prometo, coloco meu nome nela, e será meu filho, se ele não o fizer, sem nome não ficará, fique calma.
Quando me disse no carnaval, realmente não o levara a sério, mas naquele momento de dor, foi o ato mais lindo de todos, afinal estavam pensando no futuro do meu filho, que não era dele. Cai em prantos e agradeci muito, muito mesmo, e disse que precisaria dele por perto, se não se incomodasse, porque me sentia só.
Fez-me prometer que iria avisá-lo todos os meses do pré-natal, e me ligava sem eu precisar pedir de 15 em 15 dias durante TODA a minha gravidez. Os jardins de Monet são dedicados a Ele e a Helena, meus anjos da guarda!
Na manhã seguinte acordei com um telefonema, era o pai da Helena perguntando quando  eu ia embora e que ele ia fazer a minha mudança, mas tinha que ser rápido. Claro que discutimos pelo telefone e disse-lhe que não estava fugindo de ninguém, que agradecia, mas tinha que arrumar minhas coisas. Ele se irritou e de lá pra nosso relacionamento foi um desastre. Não nos falamos quase, pois antes de ir passei a maior humilhação da minha vida. Alguns pertences meus foram bloqueados de sair do prédio por inadimplência, isso era uma coisa que jamais poderiam ter feito, mas estava tão frágil que nem me toquei que entendia disso. Chorava sem parar. Nesta mesma madrugada eu caí em prantos e uma amiga de Santos me ligou e tentou me acalmar, mas era impossível, precisava colocar tudo para fora, foi quando às 2h00 da madrugada liguei para o Camilo e sem conseguir falar, ele entendeu, conversou muito comigo e disse que estava do meu lado para qualquer coisa, mas que ficar assim só faria mal ao bebê, e eu não conseguia parar, foi então que já sendo umas 4h00 ele começou a rezar comigo, e isso foi mais ou menos uma hora. Eu não falava, só pedia para ele me ajudar a tirar aquela angústia de dentro de mim e que não sabia se ia agüentar tudo que viria pela frente, que tinha medo. Essas eram minhas palavras e desejos e ele então começou a rezar e fui me acalmando até ficar com muito sono e cansaço e disse que precisava dormir, ele concordou e desligamos o telefone. A minha amiga que tinha ligado entrou em contato com o pai da Helena e ele apareceu na minha casa às 7h00 da manhã. Quando viu o meu rosto inchado de tanto chorar disse:
-Você chorou muito pelo visto, sabe que não pode fazer isso, não faz bem para sua gravidez.
Respondi ainda com sono
-Tá difícil, mas sei que vou melhorar...
-Fique bem, nos falamos outra hora, qualquer coisa me ligue, respondeu friamente
Foi embora, mas eu não tinha mais forças para chorar tamanha a minha indignação.
No dia 18 de Março de 1.998, meu patrão, percebendo que o pai da minha filha nada faria para eu mudar, e parte das minhas coisas já haviam ido embora, resolveu então me ajudar e pagou meu aluguel, e me levou para Ribeirão Preto, quase na hora do almoço. Foi difícil, mas deixei toda uma história para trás sem saber o que me esperava adiante.
Ao chegar em casa, minha mãe me recebeu bem e me ajudou a colocar tudo no lugar, foi quando percebemos que no quarto que eu tinha no apartamento deles não caberia o berço e meu irmão já havia dito que jamais cederia o dele para mim. No final da tarde meu pai chegou e tudo se clareou, talvez tenha sido depois do parto o dia mais lindo da minha vida, ele então se sentou a mesa e me chamou dizendo:
-Lígia, eu quero dizer que vocês dois são muito bem vindos. Esta casa também é sua e estamos aqui para te ajudar. Não importa o que tenha acontecido e como, vamos cuidar para que tudo dê certo. Você é nossa filha e está a caminho um neto, que vai ocupar esta casa como se fosse dele, por isso a única coisa que te peço agora, não pense em nada, apenas em se cuidar, sua gravidez requer cuidados e não estamos aqui para te julgar. Vamos seguir em frente e mais uma vez "Sejam Muito Bem Vindos"!
Foi emocionante para mim, não esqueço... Acho que nunca na minha vida senti tanta vergonha. Agradeci muito sem graça e dei-lhe uma abraço, sabendo que tudo aquilo era real, sendo que meu pai sempre foi muito transparente conosco. Minha mãe ouvia tudo ao lado, mas nela não consegui abraçar, ainda sentia um certo julgamento, mas com ele estava em paz e isso foi muito bom, me deu forças para seguir.
Fui ao meu primeiro pré-natal e entreguei o relatório do Dr. Speciali. O ginecologista leu, não concordou muito, mas como são amigos de profissão e da cidade, acatou. Encaminhou o pedido do AFP, eu já estava beirando os 3º mês, e assim foi.
Sempre que ia à S.Joaquim o Camilo era informado, aparecia, e quando cheguei na minha avó ele estava na porta do prédio me esperando.
Ele pedia sempre um relatório completo, eu acabava me divertindo com isso, me fazia bem e aí ele dizia novamente:
-Você já sabe, se o pai não registrar, essa criança não ficará sem nome, independente de como venha, está me ouvindo?
Respondia afirmativamente e perdi as contas de quantas vezes ele me disse isso por telefone ou pessoalmente, porque durante os meses do pré-natal, foi me ver em todos e seus telefonemas de 15 em 15 dias também foi até o final da gravidez.
Era ano de Copa do Mundo, e eu sempre gostei muito de futebol, como de outros esportes, acho que por não poder atiçá-los. Fiz o primeiro AFP  e o resultado foi muito bom, e na ultrasonografia também nada acusava, e a 1ª que fiz ao ver o bebê e contar seus dedinhos chorei muito de emoção e o médico foi muito simpático e disse:
-Vou ter que começar tudo de novo, você não prestou atenção em nada que falei, também com um bebê desses, não é para menos! E assim ele fez, começou tudo novamente.
Estava muito emocionada de saber que aquele serzinho perfeito estava dentro de mim, que era meu filho. Acredito que todos que passam por esta experiência sentem o que eu senti. Como sempre entrava sozinha até nestes exames. Cheguei a chamar o pai do bebê para me acompanhar no pré-natal e nos ultrassons, mas ele dizia sempre que tinha um compromisso, que tinha que trabalhar, então eu gravava e fazia uma cópia e mandava para ele pelo correio.Tinha feito uma promessa para ele e para mim, de que depois da maneira que lhe dera a noticia da minha gravidez, não iria errar mais, que sabia da minha crueldade e assim fiz, passei por cima do meu orgulho e foquei no meu filho, mais nada, e ele fazia parte da vida dessa criança, gostando ou não, sendo um bom pai ou não, mas nunca mais errei daquela maneira.
Minha barriga quase não aparecia, mas eu não sentia mais nada, nem sono, e todas as vezes que podia estava sempre muito arrumada. Acho que mulher grávida pode tudo, porque ela está no auge de sua beleza interna e externa. Com isso, todos me diziam que minha barriga era de menino, que eu provavelmente seria mãe de um moleque. No fundo, bem no fundo, não concordava, algo me dizia que ia ser uma menina, mas as lendas me levavam a crer que teria que brincar de carrinho.
Ainda não havia completado 5 meses, fui para mais uma ultrassonografia, porque o hospital tinha me convidado para fazer uma filmagem por conta do formato do meu corpo e que tudo seria melhor e eles precisavam apresentar em um congresso, mas tive que assinar um termo de exclusão de direitos autorais, aceitei, afinal se fosse para ajudar, por que não? Fizeram o primeiro com a roupa do hospital, um monte de pessoas filmando, uma sala pequena, mas toda equipada. Achei aquilo o máximo. Terminando, meu médico disse:
-Agora nos vamos fazer o ultrassom para você e terá algumas partes que vou editar. Você quer saber o sexo, ou vai deixar na surpresa?, perguntou sorridente
-Eu gostaria muito de saber, se tiver jeito, quero sim, respondi ansiosa.
-Você já pintou o berço do seu bebê de azul? , perguntou-me sem olhar no meu rosto.
Aquilo foi como um balde de água fria  e responde timidamente:-Não, não pintei!
Ele disse sorrindo.
-Que bom porque terá que pintar de rosa, é uma menina, e eu tenho certeza, ela é muito serelepe, está com as perninhas abertas, o que me dá condições de te dar esta certeza. Por isso disse que ia editar, não quero que saibam o sexo, será algo entre nós, mas ela quer te avisar que está chegando
As lágrimas escorriam de emoção  e  eu então disse:
-É a Helena, Doutor, a minha Helena, será um sonho mais do que realizado, um presente de Deus mesmo!
Saí de dentro da sala totalmente emocionada e minha mãe me esperava do lado de fora, então disse:
-A Helena está chegando...é a Helena, mãe, a minha Helena!
Fomos para casa e ao colocarmos a chave na porta, ouvimos o telefone tocar sem parar. Eu sai correndo para atender, era meu pai e logo foi perguntando:
-E até você fez o ultrassom, deu para saber o sexo?
-Pai, é uma menina, ela estava com as perninhas abertas e o médico conseguiu dar certeza absoluta. É a Helena pai, respondi feliz
-Graças a Deus, rezei tanto e pedi tanto que fosse uma menina. Viu, agora nunca mais estará sozinha? Ele me atendeu, Parabéns! Estou aliviado, feliz e saindo daqui, já chego e conversaremos melhor, disse ele também feliz, e pediu para falar com minha mãe, repetindo as mesmas frases, de acordo com ela.
Imediatamente liguei para o pai da Helena, contando a novidade e ele estava em um lugar com todos os nossos amigos e perguntei:
-O que você acha que deu? Brincando e feliz
-Uma menina, tenho certeza que serei pai de uma menina, arriscou.
-Como assim tem certeza? Indaguei
-Não consigo me ver como pai de menino, acha...
-Realmente é uma menina sim e olha, você se importaria se ela chamasse Helena?Consultei, afinal ele era o pai.
-Helena? Que nome estranho...
Ouvi os gritos de alegria da nossa turma e da escolha do nome que era maravilhoso, então disse:
-Gostaria muito que fosse Helena, mas você tem outra idéia, eu tenho que ir para Jaboticabal este final de semana.
-Acho que não vou ter muita escolha, acharam lindo o nome, se mudar, acho que apanho, mas assim que chegar conversamos, mas dessa vez pode nos encontrar para falar disso. Avise-me quando chegar, vai ficar na nossa amiga de Santos? , perguntou
-Sim, como sempre. Aviso-te assim que chegar, mas vou aí para poder ver se recebo algo, não quero entrar na justiça, mas a coisa esta ficando cada dia pior, comentei.
Despedimo-nos e assim foi nossa conversa cheia de alegria. Fiquei feliz!
Fui para Jaboticabal, mas nos falamos muito pouco. Ele perguntou onde estava minha barriga, mas que meu seio estava lindo e grande. Depois não o vi mais.
No 5º mês para o 6º mês tinha que repetir o AFP e o fiz a pedido do Dr. Speciali.
Manhã de Copa do Mundo, jogo do Brasil e algum outro time, não sei dizer qual, fomos buscar o resultado, porque tudo fecharia às 13h00, e assim o fiz, e como o 1º  tinha dado tudo certo, pela primeira e última vez na minha vida abri o exame e quase tive um treco. Estava alteradíssimo, de forma inexplicável. Desmoronei e na hora liguei para meu ginecologista e ele me fez a seguinte pergunta:
-Lígia, o exame estava em nome de quem?
- No do Sr. Dr. respondi timidamente
-Então, isso é para você aprender a não repetir este ato.
-Mas, Doutor, não imaginava isso, o 1º deu tudo certo, imaginava que seria apenas uma confirmação do primeiro.
-É, mas não foi, e agora temos vários fatores, inclusive o exame foi feito errado, por isso, amanhã procure o médico da ultrassonografia e solicite uma de emergência e explique o que acontece. Eu vou ligar no laboratório para saber o que houve e como foi feito este exame e que você talvez tenha que refazer, me orientou.
Liguei para o Dr. Speciali que me pediu para não abrir mais nenhum exame, por conta destas surpresas, e que teria fazer o ultrassom urgente e deixá-lo a par de tudo. Não tinha nada a fazer, apenas aguardar e disse que depois disso ia solicitar um ultrassonografia para detectar talvez um lábio leporino. Fique de pedir o  pedido do exame.
Fiquei acusada, as lágrimas vinham com medo e poucas, estava mais forte, apenas passei uma noite em claro torcendo para o médico me atender, e ainda bem deu certo, aliás, exame particular é na hora...
Cheguei ao hospital por volta das 9h00 sem dormir, abatida, e expliquei tudo que havia acontecido no dia anterior e o médico foi muito minucioso, ficou exatamente 40 minutos, apenas na coluna da Helena e me afirmava friamente:
-Lígia, pegue estes exames e jogue fora, sua filha não tem absolutamente nada. Ela é totalmente normal, eu posso afirmar isso para você, acredite em mim e jogue tudo isso no lixo, por favor. Olha esta coluna, perfeita!
Eu sorria de forma meio amarela, sempre na dúvida do por que tudo tinha dado tão errado e alterado. Queria respostas e ninguém sabia me dar, nem os médicos...
O ginecologista solicitou então um exame para diabetes, porque eu não parava de engordar, eram 3 kg por mês e isso poderia também estar atrapalhando. Fui ao laboratório e fiz o PIOR exame da minha vida. Nada é parecido com aquilo. Foi o único dia que senti enjôo, mas por conta do suco que me obrigaram a tomar.
Na consulta seguinte, ele reiterou o pedido do lábio leporino, o exame de diabetes não tinha dado nada, ainda bem, e me pediu para repetir o AFP. Achei uma tortura, era contra, mas ele me disse que tinha ligado no laboratório e se informado em vários, e precisava tirar esta dúvida, então aceitei contrariada, mas aceitei.
No meu 7º mês, meu médico não deu o resultado do meu AFP, mas me fez uma colocação que não esqueço dizendo:
-Lígia, eu fiz tudo o que podia, fui a Ribeirão Preto, reuni-me com amigos do H.C., consultei  alguns laboratórios e não acho a causa deste exame ter dado alterado, nem o exame dá para ver a síndrome de Down, não temos mais tempo. Agora temos que aguardar um aviso da natureza para podermos fazer o seu parto.
- O Senhor quer dizer que nada pode fazer, só rezando?
-Só Lígia, cientificamente temos que aguardar, não tenho mais o que fazer, este procedimento eu não uso, este exame nunca recomendei e não esperava por tudo isso. Vamos aguardar. Vá para casa e torcerei junto com você para dar tudo certo.
Chorar?...Nem pensar, estava prestes a ser mãe, não me era permitido. Encontrei o Camilo como de costume, ele disse as mesmas coisas de sempre, mas desta vez estava assustado como eu. Perguntou como estava e respondi:
-Em final de gravidez, daqui uns dias nasce!
Voltando a Ribeirão Preto, procurei não pensar, mas meu pensamento estava no resultado que o ginecologista não tinha me dado, estava intrigada com aquela atitude, e me perguntava por quê? Tinha repetido então o mesmo resultado, foi o que imaginei.
Ao chegar em casa, sentei na sacada e acendi um cigarro, porque ainda fumava 5 (cinco) por dia, às vezes até menos e terminando  olhei e na frente tinha um terreno, que ainda existe e é muito verde, olhei e pensei em Santa Rita de Cássia, de quem sou devota até hoje, e tive uma confirmação dela, linda, rezei para ela e em pensamento disse o seguinte:
-Santa Rita, eu acredito que Deus tem tantos problemas maiores do que o meu neste mundo que está aí cheio de miséria e pobres e crianças passando fome, mas queria que a Senhora intercedesse por mim; se ele achar que mereço uma filha normal, serei grata eternamente, mas se ele achar que devo ter uma filha deformada, ou com qualquer problema, vou amar da mesma maneira, pode ter certeza. Interceda por mim, por favor!
Naqueles minutos tinha duas alternativas:
a) ou cuidava do enxoval, coisas para ter o bebê, e cuidava de mim;
b) ou iria enlouquecer.
Nada podia fazer... Nada!
Optei pela primeira opção e como se tivesse um botão, desliguei e fui cuidar das roupinhas, arrumar a malinha, porque já estava de 7 meses e tudo poderia acontecer dali para frente. E assim fiz...