terça-feira, 20 de março de 2012

Relato V



Nascimento - HELENA

Logo depois da minha visita ao Ginecologista mudamos de apartamento, para poder acomodar as coisas da Helena e assim pude montar nosso quarto. Meu pai fez questão de tudo novo, eu já pensava em improvisar algumas coisas, mas ele não permitiu e sentia na minha mãe uma "suposta" paciência, mas durante minha gravidez, trocou todos os eletrodomésticos da cozinha e lavanderia, mas nada dizia e ainda bordou em  ponto cruz todo enxovalzinho da Helena, personalizando-o. Foi tudo muito simples, mas de muito bom gosto e lindo!
Exatamente um dia depois de nos mudarmos para o apartamento novo o pai da Helena apareceu do nada, com duas amigas minhas de Jaboticabal e eu estava já com uma barriga enorme e a casa de pernas para o ar, ou seja, tudo fora do lugar. Foi onde senti a mágoa do meu pai que não queria deixá-lo subir na hora que o porteiro anunciou-o. Meu coração veio à boca, não estava esperando, mesmo porque diversas vezes pedi que ele tomasse esta atitude, mas nunca o fez, e de repente lá estav aele. Minha mãe atendeu o interfone e autorizou a subida deles. Recebi-os na sala e ele ficou espantado de como eu estava diferente.Fui até a cozinha onde meu pai se encontrava e perguntei se ele não ia lá, e ele respondeu na hora:
-Por mim ele não tinha nem entrado, foi sua mãe que deixou e lá não vou.
Foi então que pedi:
-Pai, por favor, por mim e pela Helena, afinal é o pai dela, não faz isso, eu estou te pedindo.
Ele me olhou, desceu da escada e disse:
-Por você e pela Helena, mais nada.
E lá foi ele cumprimentar a todos e conversou com as meninas, enquanto eu e meu ex víamos as coisinhas da Helena no quarto e ele se justificava dizendo:
-Muito bom, seu pai fez tudo por você né, eu não fiz nada. Comentou
-Eu tenho certeza que ainda fará, sei que você não está podendo, mas podia ter vindo antes porque talvez, muita coisa não tivesse passado, mas agora já foi e não foi só do meu pai, aqui tem ajuda de muitas pessoas da minha família como minha irmã, meu cunhado, os filhos deles, as meninas, minhas primas. Relatei.
-Mas você parece bem, tem sentido algo? Perguntou
-Não, graças a Deus não, mas ainda estou preocupada, só vou descansar ou não depois que ela nascer, mas tenho muita fé que tudo dará certo.
-Queria que você entendesse que foi muito difícil para eu aceitar e entender tudo o que aconteceu na nossa vida de uma hora para outra.
-Eu até entendo que é difícil, mas eu não tinha como fugir, esta criança está aqui, eu tinha que enfrentar, não dava para ser diferente e assim o fiz, mesmo sofrendo muito.
E continuei...
-Não culpo você por não querer ficar comigo, não era obrigado a se casar, ter-me como esposa ou coisa parecida, mas você me rejeitou como pessoa, e uma pessoa que espera um filho teu, isso é que é muito difícil.
-Mas e se ela nascer com problemas, eu acho que não tenho estrutura para agüentar a conviver com isso.
-Não posso fazer nada, eu não tenho escolha, com problemas ou sem problemas ela vai nascer e terei que enfrentar e amá-la do mesmo jeito.
-Eu não durmo só pensando nisso, ele comentou.
-E você acha que para mim está fácil? Eu tenho que enfrentar, mas creio que vai dar tudo certo.
-Eu vou comprar umas fraldas descartáveis para trazer. Vou fazer o pedido de RN de tamanho de um a três meses, pode ser? Perguntou.
-Claro que pode, toda ajuda é bem vinda, muito obrigada, nós duas agradecemos.
Voltamos para a sala, matei um pouquinho a saudades das amigas e eles resolveram ir embora. Ele deu-me apenas um abraço e pediu para eu me cuidar.
Duas semanas depois apareceu novamente com dois fardos de uma fralda importada maravilhosa e um fardo  de um a três meses da mesma marca. Assustei, mas achei ótimo, porque ainda não tinha comprado nenhum pacote. Ele veio com um amigo nosso, conversamos um pouco e  foram embora. Acho que foi a última vez que eu o vi antes do parto.
Refiz a amizade com minha prima com quem tinha discutido antes de ir morar em  Jaboticabal-SP, e foi um encontro que me fez bem, mas quase não saia de casa por conta da minha pressão que baixava por nada, mas fora isso, estava bem.
Estava no 8º mês de gravidez sem nada sentir, apenas ainda tinha, desde o 5º mês medo de dormir, ou insônia, se assim podemos classificar. Meu medo de chegar o dia era imenso, então ficava acordada todas as noites até o sono me vencer, como se o dia do nascimento não fosse chegar de qualquer forma. Durante as madrugadas lia sobre partos, anestesias e tinha um diário que além de explicar cada parte com fotos e lugares para relatórios, davam dicas de roupas, posições, e também falava do tal exame que fazia o AFP (Alfa Feto Proteínas).
Do 8º para o 9º mês passei a ter muita falta de ar, já não fumava quase, chegava a dois cigarros por semana e não me fazia falta, tinha outras preocupações, mas ainda tinha muita vergonha do meu pai. Minha barriga não parava de crescer e com ela minha angústia em tê-lo decepcionado e ele ainda estar do meu lado de forma tão nobre. Tudo corria bem, mas angustiante, acho que queria ter motivos para reclamar e não tinha nenhum, fora meu irmão que resolveu ser um rebelde sem causa e ter ciúmes, mas até aí, tudo bem. Às vezes brigávamos muito e eu desforrava todo o meu ódio do pai da Helena nele, como se tivesse culpa.
Dia 30 de setembro por volta das 22h00 acendi um cigarro, coisa que já não fazia, dei duas tragadas e pensei:- Amanhã isso aqui vai me dar mais falta de ar. E apaguei.
Durante a madrugada toda comecei a perceber que estava tendo contrações e por volta das 2h30m comecei a cronometrar e elas se manifestavam de cinco  em 5 minutos. Por volta das 4h00 fui até o quarto da minha mãe e  meu pai, que nunca estava fora, naquele dia tinha ficado em São Joaquim para resolver uns problemas. Acordei minha mãe e disse o que sentia e que achava melhor ligar para o meu ginecologista. Ela então assustada respondeu:
-Isso não é nada, dorme que passa!
Não sabia se ria ou chorava, mas foi à resposta mais hilária que recebi na vida.
Liguei para o meu médico por volta das 4h30m e disse o que ocorria, se esperava o dia da consulta que estava próxima e ele então respondeu:
- Vá agora para o hospital, nos encontramos lá, não quero esperar para a consulta. Até daqui a pouco.
Perdi as pernas e não conseguia sair do lugar, mesmo porque meu pai não estava ali e fiquei sem ação e tremendo muito, foi então que liguei para minha irmã e ela atendeu ao telefone assustada, mas já prevendo:
-O médico quer que eu esteja lá agora, o que faço, nosso pai não está aqui?
Ela respondeu
-Meu marido vai te levar até lá, fique tranqüila, está tudo pronto não é?
Respondi com voz fraca:
-Está sim, tá bom, vamos.
Desliguei o telefone e pensei: - Meu Deus, como vai ser chegar em uma cidade pequena, com meu cunhado para dar a luz? Acho que isso não está certo e no mesmo instante o telefone tocou:
-Ligia, agora que acordei, quer que eu te leve, vamos juntas conversando?...Era minha irmã, lúcida novamente.
Eu relaxei e disse:
-Quero muito, não tem cabimento ser diferente e será melhor!
No caminho ela disse que achava que ia nascer naquele dia, mas que era tranqüilo, que não precisava me preocupar. Foi então que pedi para ela que se caso eu fosse ter o nenê naquela manhã que avisasse o pai da Helena depois que eu estivesse no centro cirúrgico. Não queria ninguém comigo, tinha medo do que poderia acontecer e precisava estar sozinha com o médico e o anestesista, mais ninguém. Este momento era só meu, tinha que enfrentá-lo, então, que fosse sozinha como foi desde o dia 20 de fevereiro.
Lembro-me até hoje, usava uma blusa de malhas com mangas longas brancas e por cima um vestido longo também de malha preto de alças, muito bonito e calçava uma alpargata preta com sola de borracha.Sentia-me muito bem.
Demorou um pouco, mas o Ginecologista chegou e a minha irmã tomou todas as providências com relação à internação, mas não conseguia falar com meu pai. Quando o conseguiu também teve uma reação engraçada, disse que a hora que acordasse ia ver o que poderia fazer... Ou seja, estavam todos transtornados e dormindo muito. Todos nós sabíamos que a hora ia chegar, mas ninguém se preparou para ela e não tem mesmo como se preparar. Ela apenas chega...
Conversamos bastante eu e o meu médico que depois de me examinar me disse:
-Lígia, você não tem nem um dedo de dilatação. Também não tem histórico de parto normal, sua mãe não teve e sua irmã também não. Eu precisava de um aviso da natureza e estou tendo, mas não é definitivo, posso te mandar para casa e estas contrações só vão piorar e judiar de você e podem durar até 10(dez) dias. Passamos por muito sufoco, estou agoniado faz dois meses para ver esta criança. Você aceitaria fazer uma cesárea agora, afinal sua idade e todo seu histórico não competem para que seja diferente, que tal?
Eu mais do que depressa respondi:
- Por mim Doutor, está tudo bem, também quero terminar com esta agonia. Vamos fazer a cesárea sim. 
Ele então me orientou
-Vou deixar você na mão da enfermeira e vou chamar sua irmã para algumas providências de roupas e coisas do tipo porque sei que ela está com você, já nos vimos lá fora quando cheguei. Vai querer fotografar ou algo mais? indagou.
Eu mais ou menos calma disse:
-Dr., este momento é só nosso. Só nós sabemos o que passamos e se vamos passar mais, então não quero ninguém além de nós lá dentro, nem minha irmã. Este momento será único na minha vida, mas muito obrigada pela preocupação! Disse com um sorriso meio amarelo, nervoso.
-Imagina, eu entendo você e acho que está certa. Bem, te encontro na sala de parto.
E as enfermeiras entraram em ação. Minha irmã chegou e reafirmei meu pedido do aviso para o pai da Helena e ela entendeu; e orientei sobre a 1ª roupinha que ela quem inclusive tinha me dado e sobre as coisas da malinha e as minhas. Demos ainda umas risadas sobre a reação de cada um e fui para a sala de parto.
O anestesista era quem eu desejava sem pedir, acredito que tenha sido Deus que o colocou de plantão naquele dia. Ele é calmo, sereno e competente, em fração de segundos, depois de explicar sobre como seria o procedimento da anestesia, aplicou e eu não senti mais minhas pernas.
O Ginecologista entrou e o parto iniciou, mas de uma hora para outra minha pressão caía, eu então falava com um pouco de medo de tudo o que ocorria e ele injetava algo no soro, e o ginecologista afastava a Helena que deveria estar em algum lugar indevido. Eu sumia e voltava, sempre com a sensação de desmaio, foi quando meu médico então disse:
-Lígia, ela como já sabíamos está na posição correta, mas vou tirá-la pelas costas, preciso ver a coluna desta criança rápidamente e assim o fez.
Foi o momento mais lindo da minha vida:
Ele ao tirá-la olhava e falava bem alto:
-Ela é perfeita Lígia, ela é perfeita, perfeita. Graças a Deus não tem nada, absolutamente nada na coluninha dela e ainda é brava!
Eu chorava sem parar e agradecia a Deus por tudo aparentemente ter dado certo e minha pressão voltou ao normal.
O Pediatra a pegou e dai a pouquinho veio com ela, maravilhosa, ainda sujinha para eu ver. Era linda, mais linda do que podia supor e chorava compulsivamente e apaguei.
Eram 08h53m do dia  1º de outubro de 1.998. O dia mais feliz da minha vida e daí para a frente foi só alegria:
O primeiro banho da tia coruja durante sete dias;
O primeiro banho que me deixaram dar;
Amamentar e ter muito leite e ela não conseguir mamar  e as vezes ter que tirar, por não aguentar de dor. Era gratificante;
Acordar a noite para amamentá-la, trocá-la e aproveitar para tirar várias fotos;
Ir ao pediatra e descobrir que tudo estava correndo muito bem;
O nosso choro do primeiro dia na escolinha aos nove meses;
O desespero da primeira febre;
A primeira internação;
O Batizado;
O primeiro aniversário;
A primeira vez ela me chamou de Mãe
-SER MÃE, não tem como explicar, tem que sentir e eu consegui, com muito sacrifício e determinação, perseverança e fé e acreditando que tudo podemos superarmos se acreditamos.
PARAFRASEANDO O DR. SPECIALI: EU SOU UMA GRANDE VITÓRIA NA SUA VIDA PROFISSIONAL E A HELENA É MEU TROFÉU.


Esta é a minha Helena, valeu por tudo e valeria sempre! 


Seu nome: Luz, Iluminada
O Rosa é sua cor preferida
Seu signo Libra
Sua pedra Opala
Seus olhos: Verdes
Seus cabelos: Castanhos Claros
Seu Nascimento: 1º de Outubro, sendo dia  dia de Santa Terezinha, que alivia a angustia e a aflição 
Seu Batizado: 22 de maio, Dia de Santa Ria de Cassia- a Santa das causas impossiveis


Realmente, ela veio para dar Luz à minha vida, um divisor de àguas!







.